sábado, 2 de junho de 2012

Nossos Ódios Cotidianos



Nossos Ódios Cotidianos
Andreia Donadon Leal

Tudo na vida tem que ter seu ponto de equilíbrio, para fluir normalmente. Isto pode ser aplicado a quaisquer assuntos e ações inerentes às relações humanas e acontecimentos científicos, que tenham o ser humano como agente.
A energia elétrica, por exemplo, é gerada a partir de diferenças de potencial elétrico entre dois pontos (tensão elétrica negativa para outro ponto de tensão elétrica positiva), que permite estabelecer corrente elétrica entre ambos.
Para a multiplicação da vida é necessário a junção das células sexuais masculina e feminina, cada uma delas contendo metade do número de cromossomos. Quando o espermatozóide entra no óvulo, fundem-se os dois, gerando outro ser ou uma nova vida.
Para conviver com seu semelhante, é necessário ter o ponto de equilíbrio, para uma relação respeitável, aceitável e acolhedora pela sociedade. Esse “ponto de equilíbrio” seria, talvez, a racionalização ou medida de tudo o que há na vida. Explico-me. Uma criança foi castigada (ficou uma semana sem poder acessar a internet), por não ter cumprido os deveres da escola. Para ela, o castigo dado é injusto e inapropriado. Depois de certo tempo, a criança compreende que o castigo foi bem intencionado. Dessa forma, encontramos o “ponto de equilíbrio”, no momento em que ela toma consciência de que a suposta “injustiça” de ficar uma semana sem ligar o computador, estava de certa forma, justificada pelos motivos educacionais que levaram sua mãe a tal medida.
Daí, nos deparamos com outro assunto pertinente e tão antigo como a própria criação do mundo – o ponto de equilíbrio entre o amor e o ódio.
Ninguém ama integralmente seus semelhantes, apesar de o Evangelho de São João relatar que Jesus ordenou aos seus apóstolos, de que era imprescindível “amar uns aos outros como ele os amou”. Se amássemos o próximo como a “nós mesmos”, ou seguíssemos ao pé da letra este preceito, viveríamos no estado integral e permanente da paz. No entanto, os “pequenos ódios cotidianos” são sentimentos reais, vivificados e vivenciados por indivíduos de todas as classes sociais, sem distinção.
A inveja, por exemplo, é expressão clara de nossos “pequenos ódios cotidianos” e não o “desejo de ser ou ter aquilo que o outro tem”, mas é estado de pura infelicidade consigo mesmo, com suas limitações, com sua incapacidade de “engolir” as diferenças existentes, de superar as coisas; de desânimo e de descrença com sua capacidade de criar ou de gerar coisas novas. É mórbido o descontentamento com as limitações (todos os seres humanos possuem limitações!), dificuldades ou falta de talento para fazer determinadas coisas; mas é preciso saber que as limitações não são para TODAS AS COISAS.
Os seres humanos nascem com talentos diversificados, cada um em sua área ou campo específico. Uns nascem com verve para serem artistas, escritores, músicos, professores, médicos, políticos, mães, pais, trabalhadores, etc.
Somos diferenciados e múltiplos, apesar de pertencermos à mesma espécie: ser humano, com qualidades e defeitos. Mas, que estes dois pontos divergentes –“qualidade e defeito” sejam bem dosados, medidos e equilibrados pelo homem, para não afundá-lo numa rede de intrigas, de rancores e de ódio que ultrapassarão “nossos ódios cotidianos ou do dia-a-dia”, destruindo as relações de cordialidade, de amizade e de cumplicidade, que nos diferencia dos seres bárbaros ou dos que perderam a noção de medida. Há uma frase famosa do filósofo Protágoras que elucida que o “homem é a medida de todas as coisas: das que existem, porque são; e das que não existem, porque não são”.
Urge equilibrar a balança, os pontos negativos e positivos, para aprendermos a conviver com o amor e o ódio, com a felicidade e a infelicidade, com ganhos e perdas, com nossas limitações, talentos, energias, fraquezas, com a efêmera existência e com o estado permanente de não existir, nessa teia frágil, delicada e preciosa, chamada “vida”.


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