Festa da Academia
Cesar
Vanucci *
“A Academia
é uma guardiã de saberes acumulados.”
(Antônio
Luiz da Costa, professor)
Um acontecimento de relevância cultural indiscutível. Assim a
solenidade de posse da diretoria que irá reger os destinos da Academia Mineira
de Leonismo no biênio 2012/2014, realizada no último dia 29 de maio.
Público numeroso, constituído de intelectuais, líderes políticos e de
outros segmentos comunitários, dirigentes de entidades literárias,
educacionais, cientificas e classistas, integrantes do movimento Leonístico,
lotou as dependências do Teatro da Assembleia Legislativa.
Entre outras figuras de realce, estiveram presentes ao evento o
presidente da Federação das Academias de Letras e de Cultura do Estado de Minas
Gerais, acadêmico Aloísio Garcia, secretário geral da Academia Mineira de
Letras; o deputado dr. Viana, representante da Assembléia Legislativa de Minas;
a escritora Conceição Abritta, presidente da Academia Mineira Feminina de
Letras; o escritor Luiz Carlos Abritta, presidente da União Brasileira dos
Trovadores e presidente emérito da Academia Municipalista de Letras de Minas
Gerais; o acadêmico João Bosco Castro, presidente da Academia de Letras
Guimarães Rosa, da Policia Militar de Minas Gerais, o advogado e acadêmico Sebastião
Braga, ex-diretor internacional do Lions Clube; o coronel Ary Vieira Costa,
presidente do Circulo Militar de Minas Gerais.
A parte artística da programação ficou a cargo da Orquestra de Cordas
“Sol das Gerais” de Betim, regida pela maestra Vânia Maria Mendes. Esse
esplêndido conjunto musical é composto de jovens selecionados em áreas de
vulnerabilidade por um edificante projeto de inclusão social, mantido por
empresários, levado avante com excepcionais resultados, por pessoas de boa
vontade na Região Metropolitana de Belo Horizonte. O espetáculo apresentado foi
de rara beleza. Arrancou aplausos entusiásticos da platéia.
A diretoria empossada, que tem na presidência este amigo de vocês, é
integrada pelos seguintes acadêmicos: ex-Presidente Imediato, Sóter do Espírito
Santo Baracho; 1º Vice-Presidente, José Alves Viana (Doutor Viana); 2º
Vice-Presidente, Nancy Moura Couto Konstantin; 3º Vice-Presidente, Vespasiano
de Almeida Martins Neto; 1º Secretária, Maria das Graças Amaral Campos; 2º
Secretário, Marcos Boffa; 1º Tesoureiro, Maria Jorge Abrão de Castro; 2º
Tesoureiro, Maria Celeste Martins; 1º Diretor Bibliotecário, Marilene Guzella
Martins Lemos; 2º Diretor Bibliotecário, Edite Buéri Nassif; 1º Diretor Social,
Carminha Ximenes; 2º Diretor Social, Sônia Maria Queiroga Ferreira; Diretor
Jurídico, Ernani Martins de Melo Rocha; 1º Orador Oficial, Sebastião Braga; 2º
Orador Oficial, Sóter do Espírito Santo Baracho; Diretores Vogais, Antônio
Carlos Tozzi Henriques, Augusto César Soares dos Santos, Daniel Antunes Filho.
Coube à acadêmica Nancy Moura Couto Konstantin proferir a “Invocação a
Deus” que, tradicionalmente, abre as assembléias leonisticas em todos os
lugares. O acadêmico Sebastião Braga homenageou Sóter Baracho com uma placa de
reconhecimento pelo brilhante trabalho por ele executado no período em que
presidiu a Academia.
Os oradores Sóter e Braga revelaram-se pródigos em demasia nas
referências ao presidente empossado. Aos exageros por eles cometidos nessas
referências pessoais, nos discursos de substancioso conteúdo cultural
proferidos, juntou-se calorosa manifestação de apreço de amigos reunidos na
platéia. Encheram-me a bola a tal ponto que me senti “encorajado” a confessar
estar balançado com relação a algo até certo tempo atrás inimaginável.
Filiar-me a partido político e – quem sabe? – sair candidato nas próximas
eleições a um cargo qualquer. Segundo suplente de Juiz de Paz da Comarca, por
exemplo, dá pra imaginar?
Origem, proposta e destino da Academia
Pronunciamento
de Cesar Vanucci na solenidade de posse da diretoria da Academia Mineira de
Leonismo - dia 29 de maio de 2012, no Teatro da Assembleia Legislativa de Minas
Gerais.
Esta Academia
tem uma origem ilustre, uma proposta nobre e um destino de grandeza.
Nasceu sob as
inspirações vibrantes de companheiros que têm seus nomes cravados na “calçada
da fama” das realizações leonísticas.
A menção de dois
deles, com a benevolente permissão dos demais, serve para exaltar,
emblematicamente, o mérito dos que compartilharam, em diferentes momentos, dos
sonhos e ações desabrochados em tantas celebrações da inteligência e da
sensibilidade que compõem a crônica da instituição. Reverencio-os: Felipe
Machado Cury, de saudosa memória, Ernani Martins Melo Rocha, governador do
Lions à época da criação do órgão.
A Academia traz
uma proposta nobre.
Proposta, claro
está, encharcada de leonismo. Vale dizer, repleta de humanismo, que tem tudo a
ver com a prática da solidariedade humana, com a busca infatigável de caminhos
melhores na edificação da pátria terrena.
A Academia tem,
por outro lado, compromisso com a tradição. Conserva em alto apreço o
conhecimento consolidado. Mas tem, também, um compromisso com a
contemporaneidade das coisas. Procura viver o seu tempo, assestando o olhar
perquiridor nos desafios do amanhã. Não pode deixar de ser depositária de
conhecimentos valiosos, guardiã serena de saberes acumulados.
De outra parte,
ela não cumprirá sua missão a jeito se deixar engessar-se pela falsa certeza de
que os paradigmas criados no curso da aventura humana para identificar momentos
culturais relevantes, precisam ser vistos fatalmente como dogmas de fé. O mundo
gira e as mudanças são inevitáveis. Uma Academia não pode deixar, assim, se
emaranhar, em suas propostas, pelas teias traiçoeiras do apego fanatizado a
conceitos de notória falsidade cultural.
A Academia tem
um destino de grandeza.
Alimenta-se dos
conhecimentos e experiências consolidados, de riqueza inexaurível, do movimento
leonístico. Processa-os de modo a realimentar o movimento leonístico de
informações de utilidade que lhe assegurem, sem perda de substância, fiel aos
princípios essenciais, permanência e modernidade.
É bom, sob esse
aspecto, não se perder de vista, mode evitarem-se equívocos e injustiças, a
visão distorcida que muitos têm do que seja modernidade. Moderneiras – mas não
modernas -, certos viventes aprontam confusão tremenda quando colocam, por
exemplo, a economia como um fim em si mesma, esquecidas de que a Economia,
assim como a tecnologia, não é fim em si mesma. É meio para se atingir um fim.
E o fim é sempre social.
Ser moderno
significa, na realidade, colocar todo o resto sob o primado do espírito humano.
É colocar a inventiva das pessoas, o potencial de serviços da sociedade em
favor do bem estar social. É dar tratamento privilegiado ao social no
gerenciamento dos negócios comunitários. É encarar a miséria, a falta de
oportunidades profissionais, o desemprego, as endemias, a ausência de escolas e
de tetos, como pecados sociais, a serem expurgados em nome dos sentimentos
humanísticos.
O quadro social
de nosso país não pode deixar de ser avaliado na programação acadêmica. O que
Camões assinalou, num outro contexto, se ajusta, como luva, às circunstâncias
brasileiras: “Todas as notas da elegia das aflições humanas soluçam neste
quadro de suprema angústia...”
O Acadêmico é um
ministro da palavra.
Esculpindo conceitos edificantes, conferindo
dinamismo e vibração às ideias, demarcando e alargando o espaço reservado às
ações de construção humana, a palavra é sempre pura magia. Aliás, tomando
emprestada definição de Ronsard, a única magia. E tudo porque, segundo o mesmo
pensador, a alma é conduzida e regida pela palavra e a palavra é sempre dona do
coração. Os praticantes do ofício das letras, conscientes de que sua arte é
forma sublime de expressão dos sentimentos, usam do poder mágico da palavra, da
força de sedução da palavra para
celebrar a vida. Entendem como dever utilizar o talento com o fito de
espalhar beleza e disseminar verdades. Para expandir a consciência humana,
apontar trilhas, criar condições perenes de ascensão social. Exercitando a
curiosidade, transformam o ato de viver numa aventura poética. “A vida se vive
e se escreve”, proclama Pirandello.
Tudo que acabo de dizer remete ao reconhecimento de
que a palavra, como acontece também com os demais dons concedidos ao homem em
sua busca infatigável do sentido das coisas, deve sempre revestir-se – seja
repetido - de significado social.
Nasce aí a explicação dos motivos pelos quais os
intelectuais, os artífices da palavra, escritores, poetas, pensadores,
tribunos, cientistas, comunicadores, educadores, pessoas que trabalham por
vocação, ou profissionalmente a palavra, merecem ser vistos como “ministros da
palavra social.”
Essa honrosa condição implica em posicionamentos
diante das coisas do mundo. Esse mundo de Deus, que anda precisando muito de
ser reconectado com sua humanidade. A palavra social ajuda na indispensável
reformulação de estruturas econômicas e sociais iníquas, geradoras da miséria,
fome e doenças que tanto afrontam a dignidade humana.
A palavra social há que ser empregada na condenação
das guerras que as mães abominam. As guerras do terror e o terror das guerras.
Na condenação das lateralidades ideológicas incendiárias, dos fundamentalismos
religiosos ou políticos de quaisquer matizes, que conduzem ao despotismo, ao
obscurantismo, ao terrorismo sem entranhas, ao racismo, a discriminações de
todo jaez e ao imobilismo social. A palavra social profliga a hipocrisia e
arrogância dos “donos do mundo”, com suas regras capciosas de subjugação
humana. Essas regras fabricam estatísticas estarrecedoras. A fortuna acumulada
dos 500 grupos e pessoas mais bem aquinhoados do planeta equivale, conforme
atesta a ONU, ao patrimônio somado de 3/4 da sociedade humana.
No contexto brasileiro, a palavra social não pode
deixar de eleger como prioridade as cobranças pela prevalência da conduta ética
na vida pública, com repulsa à enojante atuação de corruptos e corruptores em
toda a ampla escala da convivência pública ou privada, e pelo culto do
sentimento nacional nas ações gerais do governo e sociedade. Não pode deixar de
insistir, também, na adoção de posturas coletivas em defesa, altiva e resoluta,
da cultura brasileira, do idioma brasileiro, do patrimônio dos brasileiros. No
que concerne à cultura e ao idioma, nunca é demais recordar que o uso
desatinado, como tanto se vê por aí, de vocábulos estrangeiros para classificar
coisas óbvias do cotidiano é indicação clara de pauperismo intelectual,
subserviência cultural e panaquice ampla, geral, irrestrita e irremediável.
No tocante ao patrimônio nacional – e estamos
falando aqui de soberania e segurança nacionais -, é necessário atentar para os
sinais de ameaças e cobiças externas que mantêm sob permanente mira a riquíssima
Amazônia. Muitas lideranças brasileiras, com destaque para as lideranças
militares, têm alertado para o que vem rolando sob esse aspecto. É preciso
levar na devida conta esses sinais.
Meus amigos,
Por derradeiro,
uma profissão de fé: as utopias fazem parte da
caminhada. “Se as coisas são inatingíveis, ora! Não é motivo para não
querê-las. Que tristes os caminhos se não fora a presença distante das
estrelas.” (Mário Quintana)
Esforcei-me
quanto pude, nesta descolorida arenga, em traçar um utópico roteiro de conduta
para a nossa Academia. As utopias são parte indissociável da aventura humana.
“Sonho,
logo existo”, disse alguém, em algum lugar. Desajeitado propagador de idéias
que costumam roçar as sutis fimbrias da quimera, não abdico, apesar de tudo, de
todos os pesares, de minhas crenças no ser humano.
Imagino
possível, algum dia, que a utopia cantada nos versos de tantos poetas venha a
ser concretizada no advento radioso de uma era universal plenamente
democrática, ecumênica, harmoniosa, humanística, forjada por corações
fervorosos. Uma era onde “o homem possa confiar no homem, assim como a palmeira
confia no vento, o vento confia no ar, o ar confia no campo azul sereno do
céu”, como propõe Thiago de Mello.
Muito obrigado a todos quantos
aqui compareceram e fizeram desta noite feérico, amorável e fraternal encontro
de congraçamento humanístico. Palavra de leão!
* Jornalista
(cantonius1@yahoo.com.br)
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