sexta-feira, 8 de junho de 2012

Discurso posse de Cesar Vanucci


Festa da Academia

Cesar Vanucci *

“A Academia é uma guardiã de saberes acumulados.”
(Antônio Luiz da Costa, professor)

Um acontecimento de relevância cultural indiscutível. Assim a solenidade de posse da diretoria que irá reger os destinos da Academia Mineira de Leonismo no biênio 2012/2014, realizada no último dia 29 de maio.
Público numeroso, constituído de intelectuais, líderes políticos e de outros segmentos comunitários, dirigentes de entidades literárias, educacionais, cientificas e classistas, integrantes do movimento Leonístico, lotou as dependências do Teatro da Assembleia Legislativa.
Entre outras figuras de realce, estiveram presentes ao evento o presidente da Federação das Academias de Letras e de Cultura do Estado de Minas Gerais, acadêmico Aloísio Garcia, secretário geral da Academia Mineira de Letras; o deputado dr. Viana, representante da Assembléia Legislativa de Minas; a escritora Conceição Abritta, presidente da Academia Mineira Feminina de Letras; o escritor Luiz Carlos Abritta, presidente da União Brasileira dos Trovadores e presidente emérito da Academia Municipalista de Letras de Minas Gerais; o acadêmico João Bosco Castro, presidente da Academia de Letras Guimarães Rosa, da Policia Militar de Minas Gerais, o advogado e acadêmico Sebastião Braga, ex-diretor internacional do Lions Clube; o coronel Ary Vieira Costa, presidente do Circulo Militar de Minas Gerais.
A parte artística da programação ficou a cargo da Orquestra de Cordas “Sol das Gerais” de Betim, regida pela maestra Vânia Maria Mendes. Esse esplêndido conjunto musical é composto de jovens selecionados em áreas de vulnerabilidade por um edificante projeto de inclusão social, mantido por empresários, levado avante com excepcionais resultados, por pessoas de boa vontade na Região Metropolitana de Belo Horizonte. O espetáculo apresentado foi de rara beleza. Arrancou aplausos entusiásticos da platéia.
A diretoria empossada, que tem na presidência este amigo de vocês, é integrada pelos seguintes acadêmicos: ex-Presidente Imediato, Sóter do Espírito Santo Baracho; 1º Vice-Presidente, José Alves Viana (Doutor Viana); 2º Vice-Presidente, Nancy Moura Couto Konstantin; 3º Vice-Presidente, Vespasiano de Almeida Martins Neto; 1º Secretária, Maria das Graças Amaral Campos; 2º Secretário, Marcos Boffa; 1º Tesoureiro, Maria Jorge Abrão de Castro; 2º Tesoureiro, Maria Celeste Martins; 1º Diretor Bibliotecário, Marilene Guzella Martins Lemos; 2º Diretor Bibliotecário, Edite Buéri Nassif; 1º Diretor Social, Carminha Ximenes; 2º Diretor Social, Sônia Maria Queiroga Ferreira; Diretor Jurídico, Ernani Martins de Melo Rocha; 1º Orador Oficial, Sebastião Braga; 2º Orador Oficial, Sóter do Espírito Santo Baracho; Diretores Vogais, Antônio Carlos Tozzi Henriques, Augusto César Soares dos Santos, Daniel Antunes Filho.
Coube à acadêmica Nancy Moura Couto Konstantin proferir a “Invocação a Deus” que, tradicionalmente, abre as assembléias leonisticas em todos os lugares. O acadêmico Sebastião Braga homenageou Sóter Baracho com uma placa de reconhecimento pelo brilhante trabalho por ele executado no período em que presidiu a Academia.
Os oradores Sóter e Braga revelaram-se pródigos em demasia nas referências ao presidente empossado. Aos exageros por eles cometidos nessas referências pessoais, nos discursos de substancioso conteúdo cultural proferidos, juntou-se calorosa manifestação de apreço de amigos reunidos na platéia. Encheram-me a bola a tal ponto que me senti “encorajado” a confessar estar balançado com relação a algo até certo tempo atrás inimaginável. Filiar-me a partido político e – quem sabe? – sair candidato nas próximas eleições a um cargo qualquer. Segundo suplente de Juiz de Paz da Comarca, por exemplo, dá pra imaginar?


Origem, proposta e destino da Academia

Pronunciamento de Cesar Vanucci na solenidade de posse da diretoria da Academia Mineira de Leonismo - dia 29 de maio de 2012, no Teatro da Assembleia Legislativa de Minas Gerais.
Esta Academia tem uma origem ilustre, uma proposta nobre e um destino de grandeza.
Nasceu sob as inspirações vibrantes de companheiros que têm seus nomes cravados na “calçada da fama” das realizações leonísticas.
A menção de dois deles, com a benevolente permissão dos demais, serve para exaltar, emblematicamente, o mérito dos que compartilharam, em diferentes momentos, dos sonhos e ações desabrochados em tantas celebrações da inteligência e da sensibilidade que compõem a crônica da instituição. Reverencio-os: Felipe Machado Cury, de saudosa memória, Ernani Martins Melo Rocha, governador do Lions à época da criação do órgão.
A Academia traz uma proposta nobre.
Proposta, claro está, encharcada de leonismo. Vale dizer, repleta de humanismo, que tem tudo a ver com a prática da solidariedade humana, com a busca infatigável de caminhos melhores na edificação da pátria terrena.
A Academia tem, por outro lado, compromisso com a tradição. Conserva em alto apreço o conhecimento consolidado. Mas tem, também, um compromisso com a contemporaneidade das coisas. Procura viver o seu tempo, assestando o olhar perquiridor nos desafios do amanhã. Não pode deixar de ser depositária de conhecimentos valiosos, guardiã serena de saberes acumulados.

De outra parte, ela não cumprirá sua missão a jeito se deixar engessar-se pela falsa certeza de que os paradigmas criados no curso da aventura humana para identificar momentos culturais relevantes, precisam ser vistos fatalmente como dogmas de fé. O mundo gira e as mudanças são inevitáveis. Uma Academia não pode deixar, assim, se emaranhar, em suas propostas, pelas teias traiçoeiras do apego fanatizado a conceitos de notória falsidade cultural.
A Academia tem um destino de grandeza.
Alimenta-se dos conhecimentos e experiências consolidados, de riqueza inexaurível, do movimento leonístico. Processa-os de modo a realimentar o movimento leonístico de informações de utilidade que lhe assegurem, sem perda de substância, fiel aos princípios essenciais, permanência e modernidade.
É bom, sob esse aspecto, não se perder de vista, mode evitarem-se equívocos e injustiças, a visão distorcida que muitos têm do que seja modernidade. Moderneiras – mas não modernas -, certos viventes aprontam confusão tremenda quando colocam, por exemplo, a economia como um fim em si mesma, esquecidas de que a Economia, assim como a tecnologia, não é fim em si mesma. É meio para se atingir um fim. E o fim é sempre social.
Ser moderno significa, na realidade, colocar todo o resto sob o primado do espírito humano. É colocar a inventiva das pessoas, o potencial de serviços da sociedade em favor do bem estar social. É dar tratamento privilegiado ao social no gerenciamento dos negócios comunitários. É encarar a miséria, a falta de oportunidades profissionais, o desemprego, as endemias, a ausência de escolas e de tetos, como pecados sociais, a serem expurgados em nome dos sentimentos humanísticos.
O quadro social de nosso país não pode deixar de ser avaliado na programação acadêmica. O que Camões assinalou, num outro contexto, se ajusta, como luva, às circunstâncias brasileiras: “Todas as notas da elegia das aflições humanas soluçam neste quadro de suprema angústia...”

O Acadêmico é um ministro da palavra.
Esculpindo conceitos edificantes, conferindo dinamismo e vibração às ideias, demarcando e alargando o espaço reservado às ações de construção humana, a palavra é sempre pura magia. Aliás, tomando emprestada definição de Ronsard, a única magia. E tudo porque, segundo o mesmo pensador, a alma é conduzida e regida pela palavra e a palavra é sempre dona do coração. Os praticantes do ofício das letras, conscientes de que sua arte é forma sublime de expressão dos sentimentos, usam do poder mágico da palavra, da força de sedução da palavra para  celebrar a vida. Entendem como dever utilizar o talento com o fito de espalhar beleza e disseminar verdades. Para expandir a consciência humana, apontar trilhas, criar condições perenes de ascensão social. Exercitando a curiosidade, transformam o ato de viver numa aventura poética. “A vida se vive e se escreve”, proclama Pirandello.
Tudo que acabo de dizer remete ao reconhecimento de que a palavra, como acontece também com os demais dons concedidos ao homem em sua busca infatigável do sentido das coisas, deve sempre revestir-se – seja repetido - de significado social.
Nasce aí a explicação dos motivos pelos quais os intelectuais, os artífices da palavra, escritores, poetas, pensadores, tribunos, cientistas, comunicadores, educadores, pessoas que trabalham por vocação, ou profissionalmente a palavra, merecem ser vistos como “ministros da palavra social.”
Essa honrosa condição implica em posicionamentos diante das coisas do mundo. Esse mundo de Deus, que anda precisando muito de ser reconectado com sua humanidade. A palavra social ajuda na indispensável reformulação de estruturas econômicas e sociais iníquas, geradoras da miséria, fome e doenças que tanto afrontam a dignidade humana.
A palavra social há que ser empregada na condenação das guerras que as mães abominam. As guerras do terror e o terror das guerras. Na condenação das lateralidades ideológicas incendiárias, dos fundamentalismos religiosos ou políticos de quaisquer matizes, que conduzem ao despotismo, ao obscurantismo, ao terrorismo sem entranhas, ao racismo, a discriminações de todo jaez e ao imobilismo social. A palavra social profliga a hipocrisia e arrogância dos “donos do mundo”, com suas regras capciosas de subjugação humana. Essas regras fabricam estatísticas estarrecedoras. A fortuna acumulada dos 500 grupos e pessoas mais bem aquinhoados do planeta equivale, conforme atesta a ONU, ao patrimônio somado de 3/4 da sociedade humana.
No contexto brasileiro, a palavra social não pode deixar de eleger como prioridade as cobranças pela prevalência da conduta ética na vida pública, com repulsa à enojante atuação de corruptos e corruptores em toda a ampla escala da convivência pública ou privada, e pelo culto do sentimento nacional nas ações gerais do governo e sociedade. Não pode deixar de insistir, também, na adoção de posturas coletivas em defesa, altiva e resoluta, da cultura brasileira, do idioma brasileiro, do patrimônio dos brasileiros. No que concerne à cultura e ao idioma, nunca é demais recordar que o uso desatinado, como tanto se vê por aí, de vocábulos estrangeiros para classificar coisas óbvias do cotidiano é indicação clara de pauperismo intelectual, subserviência cultural e panaquice ampla, geral, irrestrita e irremediável.
No tocante ao patrimônio nacional – e estamos falando aqui de soberania e segurança nacionais -, é necessário atentar para os sinais de ameaças e cobiças externas que mantêm sob permanente mira a riquíssima Amazônia. Muitas lideranças brasileiras, com destaque para as lideranças militares, têm alertado para o que vem rolando sob esse aspecto. É preciso levar na devida conta esses sinais.

Meus amigos,
Por derradeiro, uma profissão de fé: as utopias fazem parte da caminhada. “Se as coisas são inatingíveis, ora! Não é motivo para não querê-las. Que tristes os caminhos se não fora a presença distante das estrelas.” (Mário Quintana)
Esforcei-me quanto pude, nesta descolorida arenga, em traçar um utópico roteiro de conduta para a nossa Academia. As utopias são parte indissociável da aventura humana.

“Sonho, logo existo”, disse alguém, em algum lugar. Desajeitado propagador de idéias que costumam roçar as sutis fimbrias da quimera, não abdico, apesar de tudo, de todos os pesares, de minhas crenças no ser humano.
Imagino possível, algum dia, que a utopia cantada nos versos de tantos poetas venha a ser concretizada no advento radioso de uma era universal plenamente democrática, ecumênica, harmoniosa, humanística, forjada por corações fervorosos. Uma era onde “o homem possa confiar no homem, assim como a palmeira confia no vento, o vento confia no ar, o ar confia no campo azul sereno do céu”, como propõe Thiago de Mello.
Muito obrigado a todos quantos aqui compareceram e fizeram desta noite feérico, amorável e fraternal encontro de congraçamento humanístico. Palavra de leão!

* Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)

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