segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Saudade de Mim

Saudade de Mim
* Vilma Cunha
 
 Dona Beja. Pintura de Calmon Barreto
 
Meio dormindo meio acordada, vou arrancando de mansinho, os fiapos do sonho que sonhei. Alguém haveria de explicar direito essa outra vida que a gente tem, enquanto apaga da trivial.
 
Ora de uma clareza instigante, ora de um surrealismo assustador, os sonhos são um enigma. Sem falar em outros, com olhos bem abertos. Vira e mexe, sinto sair de mim e flanar num limbo que não sei explicar.
Vezes sem conta, sei que a situação vivida é-me extremamente, familiar.
E a necessidade de escrever? Convivo com uma avalanche de idéias tão grande que necessito exorcizá-las no papel.
Há quem tenha as respostas para tanto. Eu, não.  Ignorante dos intrincados mistérios dessa vida, deixo a minha pena rolar. Nunca fui de me aprofundar em questões existencialistas. Não daria para filósofa ou coisa e tal.
Há tanta crença fanática em verdades tão esquisitas, baseadas em conceitos personalíssimos de interpretação... Que respeito e passo ao largo.
Minha fé em Deus e nos homens é inocente e cristalina. A mesma dos tempos de criança. Nada pôde nem poderá abalar o meu amor imenso pelo Criador e suas criaturas.
Humildemente, afirmo que na simplicidade de crer, encontro esse jeitão feliz de tocar a vida. Que coisa!
Apesar do vou-lá-volto-cá na prosa intimista, não consigo arrancar os últimos fiapos do tal sonho que sonhei.Tampouco me livrar da ressaca intensa das emoções que senti.
...Eu pegava um trem, sozinha como sempre, e depois de instalada, via montanhas passando correndo, árvores indo atrás aos trancos, a chuva chorando na janela do vagão, e as minhas saudades acenando adeus em braços floridos, cujas espécies, os olhos acordados jamais tinham visto desabrochar em lugar algum.
Era tão nítido, que poderia catalogar uma a uma, aquelas lembranças de açucarar o coração.
Desperta e lúcida sinto no peito que uma delas, se recusa a voltar para a morada dos sonhos.
Como Deus meu, uma fantasia noturna vira uma realidade assim? É muito pra eu lidar com recursos tão amadores e humanos. Que explicação teria pra sentir tal saudade, se não me aparto de mim?
Quem não gostaria de vez e quando? Às vezes somos tão pesados para nós mesmos... Quem sabe é a imagem da criança que quer colo no coração? Será que ando negligenciando a menina que mora no meu peito ternurando minhas palavras? É não. Tenho tanto cuidado com a pequenina.
Precisaria pôr um pouco do frescor que deixei na juventude nos pensamentos maduros? Pode ser. Vivemos tão doutrinados palas pregações desse mundo.
Quero nem pensar que essa saudade é do tempo d’eu feliz com o homem que não esqueço. Dói demais essa saudade dos idos de tanta alegria. Com poesia. Decerto, tamanha saudade que cutuca e machuca, é pra eu pensar nesse prêmio de ainda ter o presente. Pra viver e desfrutar. Em paz comigo mesma, na sina que Deus me deu.Na solidão povoada com o que amo fazer, graças a Ele.
Misturar minhas palavras nessas saudades caprichosas.
Juro, não sei entender.
Busco a luz na Poesia!      

  

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