sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

O Programa infantil e o poeta


O programa infantil e o poeta

Cesar Vanucci*

“Saudade é ser, depois de ter.”
(Guimarães Rosa)

O “Programa Infantil” da PRE-5 era produzido, dirigido e apresentado por Altiva Glória Fonseca, uma mulher charmosa e inteligente, de presença destacada nas atividades culturais e assistenciais de Uberaba. Levado ao ar nas manhãs de domingo, com participação animada de público fiel, que lotava o assim chamado “salão grená” da emissora, atraia (nos anos 40) uma legião considerável de ouvintes. As atrações artísticas, garotos e garotas com inclinação para canto, declamação, esquetes, galvanizavam vibrantes torcidas, os orgulhosos pais da gurizada em plano de realce. Augusto Cesar Vanucci, Pedrinho Ricciopo, Neuza Papini, Nancy Pagano, Irmalda Dorça, Vicente de Paula Oliveira, Joel Andrade Loes, Walia Vieira, Zilma Buggiato Faria, este desajeitado locutor que vos fala eram, entre outros, integrantes do “elenco permanente” do programa. Os ensaios para as apresentações ocorriam nas tardes de sábado. O Regional da estação de rádio, dirigido pelo maestro João Tomé, artista de mão cheia, capaz de arrancar sons de tudo quanto era instrumento apesar da cegueira de nascença, cuidava com esmero do acompanhamento dos intérpretes, fazendo, se preciso, fundo para declamações. O conjunto compunha-se de piano, violão, cavaquinho, flauta, bateria e pandeiro.

As imagens de borbulhante júbilo daqueles anos dourados da meninice acodem-me com constância à memória velha de guerra. Indoutrodia, por ocasião da bela sessão solene que assinalou, no Auditório JK, na Cidade Administrativa, o momento culminante de celebração da “Semana Mundial do Serviço Leonístico”, neste ano de 2011, fui buscar no baú uma lembrança danada de terna do “Programa Infantil da E-5”. No pronunciamento que fiz na solenidade em questão citei versos de um poeta norte americano, Langston Hughes, assinalando que eles faziam parte de poema decorado na infância. Recuperei na hora meiga cena. A Altiva Glória Fonseca a passar-me uma tarefa, nas proximidades de um dia 13 de maio. O programa da semana seria todo voltado para manifestações lítero - musicais com foco temático na abolição da escravatura. A encomenda que recebi foi a de decorar o poema “Sou negro”, do poeta citado. Sob a zelosa supervisão de minha saudosa mãe Tonica, decorei pra nunca mais esquecer os versos recomendados, de suave sopro lírico e de dardejante conteúdo social. Bate-me forte, aqui e agora, a tentação de reproduzi-los para deleite dos leitores. Vai lá:
“Eu sou negro: / Negro como a noite é negra, / Negro como as profundezas d’África.
Fui escravo: / Cesar me disse para manter os degraus da sua porta limpos. / Eu engraxei as botas de Washington.
Fui operário: / Sob minhas mãos as pirâmides se ergueram. / Eu fiz a argamassa para a fábrica de algodão.
Fui cantor: / Durante todo o caminho da África até a Geórgia / Carreguei minhas canções de dor. / Criei o ragtime.
Fui vítima: / Os belgas cortaram minhas mãos no Congo. / Eles me lincham até hoje no Mississipi.
Eu sou Negro: / Negro como a noite é negra / Negro como as profundezas da minha África.”
Do poeta, nascido em 1º de fevereiro de 1902 e falecido em 22 de maio de 1967, fiquei sabendo mais tarde tratar-se de um inovador da arte literária, cioso de sua ancestralidade negra. Ativista social, romancista, dramaturgo, acabou firmando conceito como o mais importante poeta negro estadunidense. Um homem que soube transpor para a palavra os ritmos e a cadência da música de sua gente, notadamente o blues.
E quanto ao programa da E-5? Ele é capítulo de dias idos. Da aurora da vida, da infância querida, que os anos não trazem mais, de que fala Casimiro de Abreu. Converteu-se em saudade. Ou seja passou “a ser, depois de ter”, como diz Guimarães Rosa.

* Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

O presépio de Carlota

O presépio de Carlota

                          Cesar Vanucci *


"Natal (...) industrializaram o tema, eis o mal."
(Carlos Drummond de Andrade)


O presépio da vó Carlota era um primor. O mais arrumado da rua, a nos louvarmos na opinião dos vizinhos. Ocupava quase a metade da sala de visita. A mesa de jantar, de razoável dimensão, recoberta de sacos de aniagem e papel pardo de textura encorpada, servia de suporte. Já o guarda-louças do conjunto precisava ser remanejado para um dos quartos, mode não atrapalhar o deslocamento dos interessados em apreciar a arte e engenho empregados na montagem. Vovó Carlota preparava tudo no capricho. Despejava na empreitada o mesmo ardente fervor que punha nas práticas de religiosidade que lhe conferiam, no conceito de tanta gente, a fama de santa criatura. Ao longo de vários decênios, diariamente, de manhãzinha, acompanhada das filhas Nenê e Luzia, subia a ladeira que desembocava na bela Igreja, toda revestida de pedra tapiocanga, de São Domingos, a fim de participar das missas dos dominicanos. A cena ganhou carinhoso registro na memória uberabense. A tal ponto que acabou sendo transposta por Mário Palmério para as páginas do "Chapadão do Bugre". Antes porém, de retornar à história do presépio, quero contar algumas coisas mais a respeito de minha avó paterna. Essa mulher maravilhosa, presepeira criativa, amealhou em vida considerável crédito, embora humilde e pobre, pelas muitas ações, executadas no anonimato, em favor dos desvalidos. Fez parte na caminhada pela pátria terrena, sem dúvida, do mundo invejável dos corações fervorosos, um tipo de gente que engrandece a espécie. Quando adolescente, deslumbrado, descobri a poesia de Manoel Bandeira, deparei-me com texto que se encaixa admiravelmente em seu perfil. É aquele em que o poeta fala da presença na porta do céu de uma anciã carregada de dons. São Pedro, vendo-a, vai logo dizendo: - Você não precisa pedir licença pra entrar!
Volto, agora, ao presépio para explicar que aquela representação simbólica do Natal, com seu mágico fascínio, respondia à aspiração de pessoas afeiçoadas a estilo de vida singelo de comemorarem condignamente, no âmbito familiar, a data mais significativa do calendário. Era desmontado depois do "dia de Reis". A introdução das figuras centrais no cenário sagrado só acontecia depois da célebre "missa do galo", na volta de vó Carlota da igreja. As efígies dos reis magos e a decoração correspondente à reluzente "estrela de Belém" iam sendo paulatinamente deslocados, a cada manhã, em sua trajetória na direção da manjedoura, até o dia do encontro devocional histórico narrado nas crônicas do comecinho cristão. No mais, a comemoração daqueles tempos, de hábitos consumistas parcimoniosos, costumava abranger ainda, com todos reunidos, a tradicional ceia ou, no dia seguinte, almoço na base de frango recheado e arroz de forno. Sem libações alcoólicas, tá claro. E, também, na parte do ritual atribuído à criançada, sobrava para cada qual a grata obrigação de deixar os sapatos no presépio para que Papai Noel, quando a casa mergulhasse  em sono profundo, largasse os presentes trazidos na carruagem puxada por renas.

Tudo diferente das comemorações destes tempos de hoje, de consumismo voraz, em que a marquetagem cria, com frenética desenvoltura, espaços para erigir como símbolos natalinos o peru da Sadia e o chester da Perdigão.

Uma baita saudade!


*  Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

SBPA

Informações sobre a SOCIEDADE BRASILEIRA DOS POETAS ALDRAVIANISTAS


 
 
 
 

Sociedade Brasileira dos Poetas Aldravianistas - SBPA

SOCIEDADE BRASILEIRA DOS POETAS ALDRAVIANISTAS

A Aldrava Letras e Artes cria a Sociedade Brasileira dos Poetas Aldravianistas, entidade que promoverá a difusão dessa nova forma de poesia, lançada em em dezembro de 2010, no Jornal Aldrava Cultural edição nº 88.
A primeira Diretoria da (SBPA) é a seguinte:
Presidente: J. B. Donadon-Leal
Vice-Presidente: Gabriel Bicalho
Secretária: Andreia Donadon Leal
Tesoureiro: J S Ferreira
Promotora Cultural: Hebe Rôla

Vejam Nova Forma Poética e livros já publicados:


Revendo um filme maldito

Revendo um filme maldito

Cesar Vanucci *

“ Os vícios de outrora são os costumes de hoje”
(Sêneca)

De princípio, uma baita curiosidade. Ao depois, certa surpresa, quase derivando para aturdimento. Junto, sorrisos e, pra arrematar, irrefreável riso. Correu assim, sem tirar nem por, o meu reencontro agora com um filme visto com mistura de deleite e sobressalto há mais de meio século. Minha Nossa Senhora da Abadia D’Água Suja, como os costumes se alteram no cotidiano da vida!

Noite dessas, revi na telinha o “ Les Amants”, de Louis Malle, filme apontado como “maldito” quando do lançamento em 1958. Recordo-me bem, vasculhando a jeito as ladeiras da memória, da pororoca de registros desairosos que a fita acumulou em curto período de projeção. A fúria do ultra puritanismo foi de tal monta que as autoridades competentes, de um governo (JK) considerado o mais aberto a manifestações culturais de vanguarda que o País ao longo de sua história já havia experimentado, não tiveram outra alternativa senão a de proibirem a exibição nos cinemas. Uma leve insinuação de cena erótica supostamente nunca dantes mostrada deu origem às reações. Nas portas das salas de projeção fileiras de pessoas de mãos dadas, algumas carregando terços, exprimiam sua zanga com relação àquela obra blasfema, herética, demoníaca, que agredia, segundo se propagou, a moral, os bons costumes, os valores familiares e religiosos mais sagrados. Em púlpitos, tribunas, colunas de jornais essas reações coléricas também explodiam. Apreciadores de cinema que ousaram, naqueles momentos turbulentos, desafiar o veto dos autoproclamados censores de plantão, assistindo ao filme no curto espaço de tempo em que em foi mantido em cartaz, eram mimoseados com ensurdecedores apupos. Colocaram-se sob ameaça mesmo de constrangimentos físicos. O Chefe de Polícia, que detinha poderes quase equivalentes aos de um Ministro militar, veio a público para assegurar sua total disposição de resolver a pendência, se preciso na marra, caso tardasse a sair a decisão judicial desfazendo aquela pouca vergonha.

Creio chegada a hora de fornecer ao distinto público, sobretudo aos que não viram “ Les amants”, algumas informações acerca da fita. Drama francês, como já dito, dirigido por Louis Malle, expoente da chamada “Nouvelle Vague”, e estrelado pela fascinante Jeanne Moreau, com Alairr Cunn, Jean-Mare Bory e Judith Magre nos demais papéis de realce, o filme, rodado em preto e branco, narra a história de uma relação amorosa extraconjugal. Do ponto de vista estético e das interpretações é uma obra, ainda hoje, digna de louvor, o que explica o “Leão de Ouro” conquistado no Festival de Veneza, um dos muitos prêmios que conseguiu arrebatar.  

A “cena escandalosa”, de cunho amoroso, que provocou a ira santa levada às ruas pode ser apontada hoje, em comparação com as cenas de qualquer filme romântico exibido em vesperais infantis, como uma singela referência pudica enquadrada na mais edulcorada concepção de relacionamento afetivo bolada na literatura de madame Delly. Oportuno relembrar, como outro indicador da atmosfera puritana então vigente, que à mesma época uma reação nesse mesmo tresloucado figurino cercou também outro filme, este brasileiro, “O Padre e a moça”, de  Joaquim Pedro de Andrade.

Depois de haver revisto “Les Amants”, tantos anos decorridos, sinto-me tentado, com absoluta tranqüilidade de espírito, a registrar aqui uma sincera recomendação. Em eventual seleção de fitas visando proporcionar saudável entretenimento a religiosas reclusas, sugiro, respeitosamente, às dignas e zelosas Superioras das congregações que refuguem produções fílmicas românticas produzidas nestes confusos tempos atuais, substituindo-as por sessões corridas dessa terna e lírica criação artística de Louis Malle, por seu conteúdo mais  edificante.              

* Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)

domingo, 23 de outubro de 2011

Acadêmicas da AMULMIG - Homenageadas pelo Lions

Acadêmicas da AMULMIG
Homenageadas pelo Lions
 
César Vanucci - Membro da AMULMIG e Jornalista
 
 
Na celebração do “Dia Mundial do Serviço Leonistico” (oito de outubro), o Distrito LC-4 do Lions Clube, composto de 70 Núcleos, homenageou 30 Mulheres de realce da vida cultural, científica, política e social. A solenidade, concorridíssima, foi realizada no majestoso Auditório JK, da Cidade Administrativa.
Entre as homenageadas figuram quatro Acadêmicas dos quadros da AMULMIG: Andreia Donadon Leal, Angela Togeiro, Cely Maria Vilhena Falabella, Conceição Parreiras Abritta.
 
O Presidente da Comissão Organizadora da comemoração, Cesar Vanucci, também membro da AMULMIG, foi o orador oficial.
O discurso por ele proferido é o que se segue.
Antes de tudo mais, falando em nome da Comissão Organizadora, desejamos saudar, com efusão fraternal, todas as pessoas aqui reunidas, companheiros do movimento leonístico, autoridades, homenageadas, convidados em geral. Fazemos isso nas pessoas de Vilma Raid Fernandes, primeira Mulher a comandar os destinos do Distrito LC-4 do Lions; de Fábio Oliveira, presidente do Conselho de Governadores do Múltiplo LC; de Sóter do Espírito Santo Baracho, presidente da Academia Mineira de Leonismo; do Deputado Doutor Viana, valoroso Companheiro Leão e digno parlamentar, representante da Assembléia Legislativa de Minas Gerais; Saudamos Rosane Terezinha Jahnke Vailatti, tocados pela expectativa e esperança de vê-la galgar, em breve, na condição de primeira mulher a fazê-lo, o topo diretivo da maior organização de serviços do mundo.
Recebemo-la aqui, caríssima Rosane, neste amorável encontro de confraternização, juntamente com as outras valorosas homenageadas e com nossa primeira governadora, Vilma, como um símbolo da Mulher deste século 21. Um ser humano na plenitude de suas prerrogativas, que soube sobrepujar penosos obstáculos em sua trajetória emancipacionista, erguidos por milenares despropósitos masculinizantes, nascidos de processos culturais despojados de humanismo e espiritualidade. Valho-me desta ocasião para registrar com o mais intenso regozijo, o anuncio, ontem feito da concessão do Premio Nobel da Paz deste ano que contemplou três Mulheres valorosas. Da Libéria e do Iêmen, países um tanto quanto esquecidos do resto do mundo.
 
MINHAS SENHORAS E MEUS SENHORES,
 
“Tirante a mulher, o resto é paisagem”.
(Dante Milano, poeta)
 
A dolorida história da emancipação e promoção da mulher simboliza, melhor do que qualquer outro esforço humano de ascensão política, cultural, social, econômica, a história por inteiro das lutas pela conquista dos direitos da cidadania.
Nos óbices defrontados nessas lutas heróicas estão contundentemente inseridos abjetos preconceitos, aviltantes discriminações, asfixiantes camisas-de-força, dogmas esclerosados, presentes, a todo momento, na convivência humana. Frutos malsãos do obscurantismo, do machismo castrador, da insensibilidade para se compreender o sentimento do mundo, o sentido cósmico da vida.
Não é difícil detectar, em instantes de trevas, decretadas pelo preconceito e pela discriminação, que a mulher é invariavelmente penalizada em dobro, em relação ao homem. O racismo a alveja por ser negra, por ser cigana, por ser índia, por ser judia, ou por não ser negra, nem cigana, nem índia, nem judia, e por ser mulher. Ela paga o pato, por assim dizer, por pertencer à etnia errada, em lugares ou momentos errados, na concepção do radicalismo dominante em determinado cenário, e por ser mulher. Por pertencer à religião enjeitada, nas mesmas circunstâncias de ambiente e época, e por ser mulher. Assim por diante.
 
Comecinho da década de 50,
uma cidade do Interior de Minas
 
Cena da infância, recolhida nas ladeiras da memória. Vejo desenhado ali o perfil da primeira líder feminista que provavelmente conheci. Uma moça de seus trinta anos, dona de semblante extremamente simpático e de corpo bem proporcionado. Trescalava obstinação pelos poros.
Revejo-a descendo a ladeira que dava num campo de futebol improvisado, onde a molecada tocava suas peladas movidas a bola de pano, brigas inofensivas e um que outro palavrão ingênuo, às vezes punido com chinelada. A sensação passada era de que Verlaine teria descoberto naquele gracioso desfile vespertino - um gingado coreograficamente impecável - inspiração para seus versos: “Quando ela anda, eu diria que ela dança.” (“Quand’elle marche, on dirait qu’elle dance”)
Pontualidade, um atributo todinho seu. Podia-se acertar relógio à sua passagem. Naquele justo momento as janelas se fechavam estrepitosamente, em sinal de zanga malcontida. Olhares e murmurações recriminatórios acompanhavam-lhe a trajetória graciosa por detrás das venezianas, até que escapulisse por completo no raio de visão do falso puritanismo entocaiado. Tudo compunha clima de excitante e novelesco mistério. Mistério que aguçava demais da conta a cabeça da gente. Por que as coisas corriam daquela maneira? O que a nossa heroína andava aprontando?
Prepare-se a benevolente platéia para um baita impacto. A nossa personagem, apenas e simplesmente, foi a Mulher que primeiro ousou, naquela aprazível cidade do interior, a desfazer os laços indissolúveis e sagrados do casamento, por meio de proposta de ação de desquite, com um cidadão considerado de reputação ilibada no meio comunitário, ao se ver alvejada constantemente por atos de violência doméstica e pelo comportamento adúltero do parceiro. Ousou mais – “imaginem só o descaramento!” – foi a primeira mulher a desafiar a moral e os bons costumes da sociedade, ao sair vestida de calça comprida nas ruas. E o que é “pior”: às vezes, Santo Deus, fumava em público!
Tais lembranças, até certo ponto hilárias, de simbólico surrealismo, chegam a propósito da temática que nos reúne neste amorável encontro de reflexão e confraternização.
 
Setembro de 2011, sede da Organização das Nações Unidas, em Nova Iorque
 
Pela primeira vez na historia da ONU, a Assembléia Geral das Nações Unidas é solenemente aberta com a fala de uma Mulher.
Uma brasileira, a Presidenta Dilma Rousseff, Mulher torturada no cárcere, pelo terrorismo de Estado num instante trevoso da história, reconhece, sensatamente, que o Brasil, como os demais paises, ainda precisa fazer muito mais pela valorização e afirmação da mulher, confessando-se orgulhosa de representar, naquele instante, todas as mulheres do mundo. As anônimas que passam fome, as que padecem de doenças, as que sofrem violência e são discriminadas, por exploração econômica, pelo farisaísmo encapuzado, por fanatismo religioso em diferentes latitudes geográficas e culturais do planeta.
São significativos, é bem verdade, em nosso País sobretudo depois da Constituição Cidadã de 88, os avanços conquistas constatados no desenvolvimento pessoal da Mulher. A trajetória de vida de nossas homenageadas oferece, aliás, relato auspicioso dessas conquistas. Mas existe, ainda, forçoso reconhecer, um oceano inteiro de problemas a ser navegado na busca das soluções mais compatíveis, neste capitulo da aventura humana, com a dignidade das criaturas.
De qualquer forma há que se celebrar a utilização, cada dia mais acentuada, do real potencial humano criador do antigamente e impropriamente chamado sexo frágil.
Considerada por Heidegger, autêntica “clareira do ser”, a Mulher vem assumindo gloriosamente a palavra, como propõe Elza Tamesi ao apontar o rumo a ser seguido: “Fiz um salto na vida. Deixei de ser eco e passei a ser voz!”
E, por derradeiro, como fruto de inquietação do espírito – consciente de que o espírito humano é que nem o páraquedas: só funciona aberto, como lembra Louis Pauwells  -; e, por derradeiro, repito, trago aqui à reflexão, por parte dos que trabalham incansavelmente em favor da construção de um mundo melhor, mas também dos que, por ignorância ou  miopia social, perseveram na pratica de atos que empobrecem e aviltam a dignidade feminina, uma singela interrogação.
Interrogação que pode parecer um tanto quanto  instigante. E se, de repente, no dia do Juízo final, na hora crucial e decisiva da prestação de contas dos atos praticados em nossa peregrinação pela pátria dos homens, cara a cara com a Suprema Divindade, carregando bem nítida a imagem que do Criador de todas as coisas conservamos em razão de amadurecidas convicções religiosas pessoais, e se nessa hora precisa, a gente descobrir, embargados pela emoção, muitos até tomados de santa estupefação, que Deus é mulher?
E negra?
“Negra – evocando belíssimo poema de Langston Hughes, decorado na adolescência distante -, negra  como a noite é negra.
Negra como as profundezas d’África.”      Palavra de Leão!”
 

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Lançamento de livros de Membros da AMULMIG

 Livro da Acadêmica CARMINHA XIMENES - clique na imagem para ampliar
 Exposição e lançamento de livro da acadêmica Maria Natalina Jardim - clique na imagem para ampliar
Livros dos acadêmicos, Gabriel Bicalho e Andreia Donadon Leal - clique para ampliar

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Era uma vez no Iêmen

Era uma vez no Iêmen

Cesar Vanucci *


“Agradeço a ajuda dos Estados Unidos e da Arábia Saudita”.
(Palavras de Ali Abdullah Saleh, ditador apeado do poder,
 na volta inesperada ao palácio governamental)


Os democratas autênticos acompanham com um nó apertado no peito os desdobramentos das insurreições populares em territórios árabes. Percebem, com disfarçável inquietação, que em razão das indesejáveis tricas e futricas diplomáticas de bastidores muitas coisas que pareciam ser já não mais são.

Por força de um jogo sibilino promovido por conveniências poderosas, os objetivos dos movimentos populares em prol das liberdades públicas, vêm sendo distorcidos, aqui e ali, cedendo lugar a remanejos e reacomodações inimagináveis, capazes perfeitamente de sufocarem os sonhos e as esperanças levados, sobretudo pelos jovens, às ruas e praças convulsionadas.

O caso do Iêmen, que não é positivamente um caso isolado, reveste-se de caráter emblemático assustador. O dirigente supremo do país, Ali Abdullah Saleh, foi desafiado pelas multidões. Reprimiu com extrema ferocidade as manifestações, na mesma linha demencial de outros déspotas da região. A mídia internacional cobriu os acontecimentos, durante certo período, com enorme realce. Montou, pode-se dizer, uma crônica diária dos acontecimentos, de alguma maneira criando atmosfera favorável à retirada de cena do abominado ditador. Retratou, com abundancia de pormenores, sua trajetória sanguinária que tantos malefícios rende ao povo iemenita.

A enfática cobertura se estendeu até o momento em que Ali Abdullah Saleh foi alvejado na ocupação do palácio presidencial pelas forças insurgentes e conduzido, às pressas, em estado grave, para a Arábia Saudita, em busca de cuidados médicos. Os despachos dos correspondentes deram por vitoriosa, nessa precisa hora, a luta empreendida pela população no sentido de desalojá-lo do poder.

De repente, não mais do que de repente, o Iêmen e seu detestado dirigente tomaram “chá de sumiço” (como se dizia em tempos antigos) no noticiário nosso de cada dia. Deixaram, surpreendentemente, de frequentar os boletins da televisão e as colunas dos jornais. Silêncio sepulcral se abateu sobre os fatos políticos desenrolados no país e sobre seu personagem central.

Até que, pra aturdimento geral, a mídia resolveu, de novo – sem deixar à mostra a mais ligeira disposição pra explicar o que andou ocorrendo no país nesse razoável intervalo – “redescobrir” o presidente deposto. Localizou-o, são e salvo da silva, já “recuperado” dos ferimentos, a reassumir, “gloriosamente”, sem enfrentamentos aparentes, o posto de comando no palácio governamental em Sana, como se nada de relevante e impactante do ponto de vista político houvesse sucedido pratrazmente. A informação laconicamente transmitida é de que o dito cujo acabara de retornar da viagem feita à Arábia Saudita, após o internamento hospitalar, retomando a rotina dos despachos. E, por acréscimo, anunciando a firme e “saudável” disposição de entabular negociações em torno dos rumos futuros da nação. Das multidões e das lideranças sublevadas não se ouviu falar mais nadica de nada. Em pronunciamento pela televisão, Ali Abdullah Saleh confessou-se agradecido aos Estados Unidos e Arábia Saudita “pela valiosa ajuda recebida”, acentuando que seu governo vai combater com o máximo rigor o terrorismo. Mas não deixou explicitado se as forças terroristas citadas seriam os adversários que o afastaram (pelo visto, apenas temporariamente) do poder.


* Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)


domingo, 2 de outubro de 2011

Ora,veja, pois!

Ora, veja, pois!
Cesar Vanucci *

“As relações entre as agências da
Grã-Bretanha e da Líbia ficaram muito próximas...”
(David Cameron, Primeiro-Ministro britânico)

Notícias que dão muito o que pensar. Provêm do conturbado e incandescente cenário árabe.

A “Carta Capital” assevera que a guerra na Líbia foi, também, em parte um conflito interno dos Estados Unidos. Explica porquê. Enquanto Barack Obama festejava a vitória dos rebeldes, conquistada com a ajuda militar da OTAM, a “Al-Jazira”, bem informada rede televisiva, revelava que David Welch, ex-Subsecretário de Estado do governo Bush Júnior, antecessor republicano do atual mandatário norte-americano, reuniu-se com funcionários do ditador Muamar Kaddafi – vejam só a data – em dois de agosto último, quando o triunfo dos insurretos já se delineava claramente no horizonte, para orientá-los a procurar uma saída da encalacrada em que se meteram. A orientação – pasmo dos pasmos! – foi no sentido de que Kaddafi buscasse entrar em contato com o serviço secreto de Israel, o célebre Mossad, e agências de inteligência de alguns países árabes com o fito de denunciar a presença, ao que parece já devidamente constatada, nas fileiras dos adversários do tirano líbio, de guerrilheiros da Al Quaeda. O conselho do representante dos republicanos americanos foi mais longe: exortou Kaddafi a explorar a “incoerência do governo Obama”, por haver concordado com a invasão da Líbia embora fizesse questão de se conservar indiferente à brutal repressão policial às multidões atritadas com o governo nos restantes países árabes sublevados. O comentário conclusivo é da revista mencionada: “Nada como um especialista em hipocrisia para denunciar outro.”

Outra notícia pra lá de desconcertante, na mesmíssima linha. Foi distribuída por agências internacionais.

O Primeiro-Ministro britânico, David Cameron, assegurou, dias atrás, que uma investigação nacional de política antiterrorista vai examinar as acusações de ligações bastante próximas registradas entre os serviços de inteligência de seu país e o regime despótico de Muamar Kaddafi. Acontece que acabam de vir a lume – e isso ocorreu após a queda de Trípoli – alguns documentos altamente comprometedores concernentes a contatos recentíssimos, bastante chegados, entre representantes do M16, serviço secreto inglês, e o sistema equivalente da cambaleante ditadura líbia. Os documentos demonstram que elementos da oposição a Kaddafi, capturados por agentes britânicos, eram habitualmente entregues às forças policiais líbias. Para tornar a situação ainda mais embaraçosa e perturbante, o cidadão líbio Abdel-Hakim Belhaj, que não é outro senão o comandante militar em chefe das tropas rebeldes que se opuseram a Kaddafi, acusou frontalmente a Inglaterra e os Estados Unidos de planejarem sua captura, para entrega à ditadura, além de haverem enviado agentes para acompanhar o interrogatório, tocado na base de tortura, a que foi submetido nos porões do regime de Trípoli. Sua captura – acrescentou – ocorreu em 2004, em Bangcoc, Tailândia, numa ação conjunta do M16 e CIA.

O governo de Sua Majestade – segundo a mesma fonte – assinala agora que os documentos liberados são reveladores de que, sob a última administração britânica, comandada por Tony Blair, como se recorda, fiel aspençada do xerife Bush, as relações entre as agências de inteligência da Grã-Bretanha e da Líbia de Kaddafi “ficaram muito próximas, particularmente em 2003”. O parlamentar Jack Straw, que exerceu o cargo de Secretário do Exterior no governo trabalhista de Blair, naquele ano (2003), confessa, candidamente, que seu país era “totalmente contrário a aplicação de tortura”, mas reconhece ser “totalmente correta” a investigação proposta com o objetivo de examinar as acusações de que o Reino Unido ofereceu apoio inconveniente ao ditador Kaddafi.

Essa sequência nauseante de atos atentatórios à dignidade humana e de retórica hipócrita semeiam justificados temores e incertezas. O jogo sibilino das grandes potências no xadrez político árabe pode deixar sem resposta convincente o apelo pró democracia que, na essência de sua manifestação inconformista, gigantescas e entusiásticas multidões, com predominância de jovens, levaram às ruas e praças em históricas passeatas da assim chamada “Primavera árabe”.
Ora, veja, pois!

* Jornalista (cantonius@click21.com.br)

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Atentado à dignidade humana

Atentado à dignidade humana

Cesar Vanucci *

“Um crime contra a humanidade!”
(Presidente Álvaro Colom, presidente da Guatemala)

Colho num canto de página de jornal, um desses espaços reservados para o despejo de calhaus, como se diz no jargão jornalístico, informação estarrecedora. Apoquenta-me bastante a forma indesculpavelmente “discreta” adotada pela mídia para divulgá-la. Os feitos narrados tiveram impactos extremamente perversos na vida de inocentes de comunidades comprovadamente desprotegidas. Gente arrolada, pela arrogância e prepotência dos “senhores do mundo”, como cidadãos de terceira classe. Alvejados impiedosamente em sua dignidade humana.

Mas de que notícia se está mesmo a falar? Desta aqui: Comissão especial constituída pelo Presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, chegou a chocante conclusão de que pelo menos 83 cidadãos foram mortos em experiências médicas secretas, promovidas por órgãos governamentais norte-americanos na Guatemala. Aconteceu na década de 40. O relatório a respeito explica que, aproximadamente, 5.500 guatemaltecos foram submetidos a exames e, desses, um total de 1.300 acabaram sendo infectados deliberadamente com doenças venéreas no curso de um programa de cunho alegadamente “cientifico”, elaborado e coordenado pelo “National Institute of Health”, agência vinculada ao Departamento de Saúde estadunidense.

O programa teve desdobramentos entre os anos 1946 e 1948. Os “pesquisadores” norte-americanos, chefiados por um “cientista” de nome John Cutler, usaram cobaias humanas, vários deles portadores de doenças mentais, para apurar se a penicilina, recém descoberta, poderia ser empregada na prevenção de doenças sexualmente transmissíveis. A ação “científica” consistia na inoculação de bactérias de blenorragia e sífilis nos elementos “selecionados”, na maioria, prostitutas. As “cobaias” foram estimuladas a manter relações sexuais com soldados, detentos, doentes mentais, por ai. Os “pesquisadores” acompanharam cuidadosamente a “evolução” dos experimentos, com vistas a compor um alentado acervo de “informações úteis” que pudessem vir a orientar ações terapêuticas futuras em ambientes sociais “mais refinados”, povoados obviamente por cidadãos de primeira classe.

O Presidente Obama, dias atrás, apresentou um pedido formal de desculpas ao Presidente da Guatemala, Álvaro Colom. Este, por sua vez, depois de classificar o apavorante incidente de “crime contra a humanidade”, ordenou fosse feita por cientistas guatemaltecos uma outra investigação.

Fica difícil, pacas, entender o comportamento indiferente, distante, da mídia com relação a assunto tão sério. A desnorteante história lança, também, no ar uma pergunta repleta de sombrios pressentimentos: a experiência levada a cabo pelos “cientistas malucos” teria ficado adstrita única e exclusivamente ao território da Guatemala, ou acabou se estendendo também a outras paragens, igualmente desguarnecidas na época (só naquela época?), do vasto “quintal” latino-americano?


* Jornalista (cantonius@click21.com.br)

sábado, 10 de setembro de 2011

Layon e a Expressão da Dor

Layon e a Expressão da Dor
Andreia Donadon Leal
Elias Layon, o pintor das brumas, das paisagens embranquecidas pela névoa que ofuscam sol, nuvens e casarios barrocos, na região dos Inconfidentes, na obra de traços nervosos e vigorosos, “A dor do mundo”, parte da coleção “As 2000 mil faces de Cristo”, vai além, muito além da opacidade brumosa em suas pinturas de traços leves, coloridos e sensíveis. Bruma layoniana toma lugar de brilho, apagando raios solares, para encobrir visão e instaurar contemplação. O efeito brumoso é o mesmo da opacidade, ocultar sem obscurecer, de forma sutil, transparente e leve.  A opacidade da bruma revela leveza e volatilidade. Dizem que poeta e artista têm espíritos iluminados por Deus, pois foram escolhidos para representarem o que os olhos não veem, mas a alma, o coração e o espírito sentem. Artistas foram escolhidos também, para ir até e além de paisagens exuberantes ou devastadas pelo ser humano. Vão além do óbvio ululante, para dar vazão às idiossincrasias da alma. O homem imita a natureza? Não, o homem a recria e a reinventa ultrapassando limites científicos.Layon, em “A Dor do Mundo” expõe, através de pinceladas vigorosas, precisas e nervosas, “O Grito” munchiano, reflexo diante da tragédia humana. Trata-se de dor em sua concepção irretratável, não dicionarizada, inimaginável, grotesca e grandiosa, que qualquer simbolização linguística, por mais verossímil que fosse, seria irrisória e insignificante.Layon não descreve, nem narra em pinceladas suaves, soltas e de cores claras, a dor do mundo. Ele ultrapassa a verossimilhança externa e atinge, com olhos voltados para o mundo, a verossimilhança interna, revelação das melancolias nas almas mutiladas em catástrofes, esses tantos apocalipses que devastam mundos construídos pelos sonhos humanos.Aqui a bruma não aparece, a dor não se esconde; ela se manifesta e requer visibilidade.  Nos momentos de dor, o homem apega-se à fé e encontra a face de Cristo, força que resiste toda dor do mundo. A dor do mundo aqui não é flexionada, nem pluralizada, pois o nome singular da obra dá a pincelada magistral e definitória da dor. Em “A Dor do Mundo” não há acaso, mas objetivo, fundamentação e proposta temática de um trabalho audacioso, de difícil representação.Layon se propõe a pintar, 2.000 faces de Cristo. Por que faces de Cristo? Talvez porque Cristo é imagem de todas as dores dos seres viventes, e é Ele, quem grita no grito de todos aqueles que se desesperam em momentos limiares de sofrimento. O mundo gira na face vermelha e preta de Cristo, ciclicamente, em traços fragmentados de construções em ruínas e de faces em dor. O questionamento na expressão boquiaberta, olhos esbugalhados e língua pra fora, extremo cansaço em uma face exausta, é o de que a metáfora da via crucisse materializa cada vez que seres humanos são sacudidos por catástrofes, seja uma catástrofe íntima, um problema pessoal, cuja solução se põe no reino do impossível, seja uma catástrofe coletiva (tsunamis, terremotos, acidentes), em que o impacto destruidor atinge até aqueles que nela não estão diretamente envolvidos.“A Dor do Mundo” não é só um rosto com expressão de dor, mas ao contrário disso, a expressão da dor no rosto da humanidade.
*Deia Leal - Pós-graduada em Artes Visuais – cultura e criação
Mestranda em Literatura – cultura e sociedade pela UFV
Presidente Fundadora da ALB-Mariana

Texto da acadêmica Wilma Cunha

A língua do Ceará

Acadêmica Wilma Cunha

 
 
 
Quem Disse?

Que o sonho acabou...
Se as horas tão pequenas
São como rimas  amenas
Do poema  de viver
O sol se levanta cedinho
Para reinar nesse mundo
Dourando o amor profundo
Ama, dá-te a conhecer.
 
Escuta com fé teu desejo
Ser feliz   na alegria
Nunca foi a utopia
O choro  é triste demais.
Abra teus olhos molhados
Como chuva nos telhados
Despejando   tantos ais.
Vê ao lado o semelhante
Que deixaste tão distante
Ensimesmado contigo.
Destranca as  tuas janelas
E deixa entrar por ela
O  Amor bom  e  amigo.
         
Lembro-me com saudade, quando peguei o trivial e me mandei pro Ceará, a bem dizer Fortaleza. Delícia de decisão. Com gosto de água de coco.
Em cada canto do paraíso, parece que a  inspiradora do escritor indianista, espreita e acolhe.
Iracema, a dona do rincão abençoado por direito. A linda musa, virgem dos lábios de mel, de cabelos longos como as folhas da palmeira e da cor das asas da graúna.
Martin Soares Moreno teve a graça de amar a deusa indígena e se perpetuar em Moacir, fruto daquele amor demais.
Com o pé fora de casa, quero saber o que posso sobre a terra e as gentes do lugar.
É a ânsia de quem escreve, historicamente insatisfeito, com o seu conhecimento.
Tempo ruim? No Ceará num tem disso não, tem disso não, tem não.
Eta povo danado de porreta.
Estado abençoado, berço de José de Alencar, Padre Cícero, Bezerra de Menezes, Dom Hélder Câmara, Rachel de Queiroz, Chico Anísio , Fagner, no meio de muitas estrelas das artes, renomados representantes do povo, cada um à sua moda somando valores à redenção do nordeste.
É bom passado ficar de flozô, juntar os bregueços, pegar um jeito abestado, abuletar-se no avião, leso e tá cum a mulesta  pro que der e vier.
Quem precisa ser avexado  na terra dos alencarinos, comandada pelo galeguim dozóiazul.
Que coisa boa fechar a fela da gaita da televisão, esquecer os cibazol da vida, os esparrentos, as cunhãs e ficar arriada pelo Ceará.
A brisa acariciante com cheiro de mar balançando as folhas da carnaúba, parece um Zé-tatá com ligação direta do céu.
Me solta que não sou rola, me deixa no leriado pra esquecer o lundu e me descobrir lustrosa de alegria.
Ninguém escapa de ser isgalamido  no Ceará.
Vixe! Estive em tempo de inguiar com tanta sustança no sarrabulho. Baião de dois, moqueca, cafofa, jirimum, mucunzá, lamdedor, capitãozinho, macaxeira, doce gelado, dindim, mariola e etc e tal.
Bagana, vi não sinhô. Povo porreta de vera.
Galalau, corró, batoré, balsero, baiacu, caritó, curisco, todos têm a graça da raça com mistura de holandês. Os bruguelo então..
Amei  Fortaleza de ruma e no divertimento sem hora, deu pena o entojo da companheira de viagem.
No grupo não embarcou: baba-ovo, barriga-branca, nem metido a miolo de pote.
Ainda bem. Ficamos livres da caruara.
Só um carne de tetéu.
Balançamos o esqueleto no xenhenhém  até ficar tronchos sem torando prego por causa de quem ficou.
Praquelas bandas,  é perder tempo procurar muié sem califon nas praias.
Nem catemba ou baitola gosta de se amostrá.
O Ceará é uma quintchura e por uma peinha de nada quase fico por lá.
Borimbora..
Avie ômi, vai tu também e reviverá.
Avie Maria, e tem xente que se acha sabedor de tudo. E pió,  cum tenência pra dominar.
Inclusive o português. Ou...... brasileiro. Quem sabe.... o cearês.
Eu, hein!
“Só deixo o meu Cariri, no último pau-de- arara”

domingo, 31 de julho de 2011

04 Sonetos da Acadêmica Thereza Costa Val

Sagração das Luzes (série Portais - 2006) DL

A VIDA REVIVIDA   

                                                                    Thereza  Costa  Val

                                  É  tarde   em  minha vida...  Em  meu  outono
                               recordações  me  assaltam,  incontidas.
                           Em  minha  tarde, só,  neste  abandono,
                                  revivo  as   emoções  antes sentidas.


                                  Se as  emoções  vividas dimensiono,
                                  ressalto amargas  perdas, tão  sofridas...
                               Em  meio  às  relembranças  me  emociono,
                                  lembrando o amor que tive, sem medidas.


                               Levou-me a  vida  o  amor  e, por maldade,
                               faz-me sentir  o  peso  da saudade
                                  na  solidão  da  longa  viuvez.


                                 Tristezas, alegrias... Nada olvido,
                                 pois tudo o que passei  foi bem vivido
                                 e  eu  viveria tudo,  uma  outra  vez!
                                                                                                       

                            ( 1º lugar no Concurso “Brasil dos Reis” do Ateneu
                                   Angrense de Letras, de Angra dos Reis,RJ, 2007, tema:Vida)                        


                                                  PERFUMES

                                                Thereza  Costa Val

                          A  tudo que  marcou a minha  vida
                          parece que um perfume está ligado:
                          registro uma fragrância definida
                          de um tempo... um caso... e alguém que foi amado...

                          Se acaso um certo aroma me convida,
                          retorno com saudade ao meu passado
                          e, nessa volta, sigo comovida
                          o apelo do sentido despertado.


                          Mistério que não tem explicação:
                          perfumes trago vivos na memória
                          que ativam meus sentidos e a emoção.


                          Tão doce vem o aroma lá da infância!
                          Mas foi o amor perdido em minha história
                          que mais gravou em mim sua fragrância...     



                                 CARÊNCIA

                                                     Thereza  Costa Val


                   Vagando  pelas  ruas,  o   menino,
                   sem  esperança,  sem  palavra  amiga,
                   não   sabe  o  que  esperar   de  seu  destino
                   nem   sabe  se  algum  dia  a  paz  consiga.


                   Conhece  o  sofrimento,  o   pequenino:
                   a  dor,  o  desabrigo, o  mal,  a  intriga,
                   e   a  fome  sempre  o  traz  em   desatino...
                   E  por  viver  com   fome,  ele  mendiga.   

  
                   Pobre  criança   entregue  à   própria   sorte
                   que  a  vida  leva  em  luta  contra  a  morte,
                   seguindo  o  que,  da  rua,  a  lei  ordena!


                  Como  ser  bom  se  a  sorte  não  ajuda!...
                  Ele    quer,  na   sina  que  não  muda,  
                  ganhar   de  alguém  carinho ...   em  vez de  pena!




                                              SALMO

                                                          Thereza  Costa Val
                                                              
                         Tu me conheces tanto, meu Senhor,
                         conheces meu sentir, meus pensamentos,
                         de longe, tu conheces meus intentos
                         e até dos passos meus és sabedor!
        

                           Vês, com clareza, meu interior; 
                      sabes de mim   em   todos  os    momentos...
                        Se sabes quando passo por tormentos,
                           escuta a minha voz e o meu clamor!


Em minha mãe estava _ o ventre  terno _
e lá me viste... Sabes meu futuro,
tamanho é o teu poder: total, eterno!


                        Sonda, Senhor,  e vê meu coração!...
                        E se eu trilhar caminho mau, impuro,       
                           põe-me,   de novo, em boa direção.