domingo, 22 de abril de 2012


Millôr , simplesmente

Cesar Vanucci *

“Na vida, o gozado / É que nem o palhaço / É engraçado.”
(Millôr Fernandes)

Não resisti à tentação de lançar neste minifúndio de papel (pra tomar emprestada definição do saudoso Roberto Drummond) sugestivo registro feito pelo talentoso cronista Leonardo Attuch na “IstoÉ”, encaixando conceitos de Millôr Fernandes, um homem que sabia das coisas, em fatos e personagens notórios da atualidade brasileira.

Aqui está o resultado dessa elucubração: “Para Demóstenes Torres: Moralista é um sujeito que sempre acha que você deve fazer o contrário. Para Carlinhos Cachoeira: Toda prisão é construída com dinheiro roubado. Para Márcio Thomaz Bastos: Grandes advogados conhecem muita jurisprudência. Advogados geniais conhecem muitos juizes. Para José Sarney: Sir-Ney, nunca ninguém governou tão mal tão bem. Para os juizes brasileiros: Mordomia é ter tudo que o dinheiro – do contribuinte – pode comprar. Para Fidel Castro: Não há exceção – poder conquistado pela força só se mantém pela força e só sai à força. Para José Serra: Ao nascer todo ser humano já traz dentro de si todas as características fundamentais pra querer mandar em todo mundo e não admitir qualquer controvérsia. Para Michel Teló: A verdade é que nenhum – nenhum – ser humano está preparado pro sucesso. Alheio, digo. Para Dilma Rousseff: A reestruturação do Estado visa acabar com o golpe, o suborno, o acobertamento, o compadrio e o nepotismo. Em suma, acabar com os nossos valores tradicionais. Para Michel Temer: A ociosidade é a mãe de todos os vices. Para FHC: Não ter vaidade é a maior de todas. Para Lula: Ninguém jamais atingiu a satisfação total da sua vaidade. Para os mensaleiros: O Brasil é o único país em que os ratos conseguem botar a culpa no queijo. Para Demóstenes Torres (mais uma): A verdade é aquilo que sobra depois que você esgotou as mentiras.”

E pra aproveitar o clima, que tal preencher o restante do espaço com alguns hai-kais de Millôr? Vamos lá:
- A gaveta aberta / tem expressão / Liberta.
- Mulatas na pista, / Perco a vontade / De ser racista.
- A água do chafariz / Busca a beleza / Reflete um triz.
- Nunca esqueça: / A vida / Também perde  a cabeça.
- Santo de verdade / Um egoísta / Da generosidade.
- Torre de marfim? / Reserva três / Pra mim.
- O cético sábio / Sorri / Só com um lábio.
- Esnobar / É exigir café fervendo / E deixar esfriar.
- Na penumbra, a sós. / Quando a luz acende / Já não somos nós.
- Será que o doutor / Cobra pela cura / Ou cobra a dor?
- A vida é um saque / Que se faz no espaço / Entre o tic e o tac.
- No lusco-fusco, a passarada / Faz o ensaio geral / Para a alvorada.
- O veludo / Tem perfume / Mudo.
- Olha, / Entre um pingo e outro / A chuva não molha.

Isso aí, gente boa!

* Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br

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