Millôr , simplesmente
Cesar Vanucci *
“Na vida, o gozado / É que nem o
palhaço / É engraçado.”
(Millôr Fernandes)
Não
resisti à tentação de lançar neste minifúndio de papel (pra tomar emprestada
definição do saudoso Roberto Drummond) sugestivo registro feito pelo talentoso
cronista Leonardo Attuch na “IstoÉ”, encaixando conceitos de Millôr Fernandes,
um homem que sabia das coisas, em fatos e personagens notórios da atualidade
brasileira.
Aqui
está o resultado dessa elucubração: “Para Demóstenes Torres: Moralista é um sujeito que
sempre acha que você deve fazer o contrário. Para Carlinhos Cachoeira: Toda prisão é construída
com dinheiro roubado. Para Márcio Thomaz Bastos: Grandes advogados conhecem
muita jurisprudência. Advogados geniais conhecem muitos juizes. Para José Sarney: Sir-Ney, nunca ninguém governou tão
mal tão bem. Para os juizes brasileiros: Mordomia é ter tudo que o
dinheiro – do contribuinte – pode comprar. Para Fidel Castro: Não há exceção – poder conquistado
pela força só se mantém pela força e só sai à força. Para José Serra: Ao nascer todo ser humano já traz
dentro de si todas as características fundamentais pra querer mandar em todo
mundo e não admitir qualquer controvérsia. Para Michel Teló: A verdade é que nenhum – nenhum –
ser humano está preparado pro sucesso. Alheio, digo. Para Dilma Rousseff: A reestruturação do Estado visa
acabar com o golpe, o suborno, o acobertamento, o compadrio e o nepotismo. Em
suma, acabar com os nossos valores tradicionais. Para Michel Temer: A ociosidade é a mãe de todos os
vices. Para FHC: Não ter vaidade é a maior de todas. Para Lula: Ninguém jamais atingiu a satisfação total
da sua vaidade. Para os mensaleiros: O Brasil é o único país em que
os ratos conseguem botar a culpa no queijo. Para Demóstenes Torres (mais uma): A verdade é aquilo
que sobra depois que você esgotou as mentiras.”
E
pra aproveitar o clima, que tal preencher o restante do espaço com alguns
hai-kais de Millôr? Vamos lá:
- A
gaveta aberta / tem expressão / Liberta.
- Mulatas
na pista, / Perco a vontade / De ser racista.
- A
água do chafariz / Busca a beleza / Reflete um triz.
- Nunca
esqueça: / A vida / Também perde a
cabeça.
- Santo
de verdade / Um egoísta / Da generosidade.
- Torre
de marfim? / Reserva três / Pra mim.
- O
cético sábio / Sorri / Só com um lábio.
- Esnobar
/ É exigir café fervendo / E deixar esfriar.
- Na
penumbra, a sós. / Quando a luz acende / Já não somos nós.
- Será
que o doutor / Cobra pela cura / Ou cobra a dor?
- A
vida é um saque / Que se faz no espaço / Entre o tic e o tac.
-
No lusco-fusco, a passarada / Faz o ensaio geral / Para a alvorada.
-
O veludo / Tem perfume / Mudo.
-
Olha, / Entre um pingo e outro / A chuva não molha.
Isso
aí, gente boa!
* Jornalista
(cantonius1@yahoo.com.br
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