A culpa (não) é dos gregos
Cesar Vanucci *
“Despejam quatro trilhões e 700 milhões
de dólares de forma muito perversa.”
(Comentário da Presidenta Dilma Rousseff sobre a estratégia utilizada pelos países desenvolvidos no combate à crise financeira)
Há algo de podre no “reino” da Grécia! É o que insistentemente se propaga mundo adentro, em sentenciamento shakespeariano vertido para os dias de hoje, por eficientes arautos de forças neoliberais em seu culto desvairado ao “deus” dinheiro. Essa proclamação sombria e perversa conta com a cumplicidade de uma mídia desencorajada de exercer a contento sua tarefa institucional de avaliação crítica dos fatos políticos, sociais e econômicos desta conturbada quadra da história.
Sob o sufoco da avalancha de informações desfavoráveis ao comportamento dos gregos, o mundo não liga a mínima à dívida colossal, certeiramente impagável, contraída com a sabedoria helênica eterna, pela influência preponderante que teve no processo civilizatorio de todos nós. Só tem olhar recriminatório e comentário desairoso para a dívida, incomparavelmente menor, de certa maneira até, liliputiana, contraída pelos gregos com os bancos internacionais. Um pacto negocial sabidamente leonino, como tantos outros estabelecidos com comunidades desprotegidas por aí afora, onde a cupidez desenfreada de banqueiros e megaespeculadores inescrupulosos, enredados com políticos laureados em cambalachos, dita regras e normas que fazem dos credores reféns sem chance de resgate a curto e médio prazos.
A tragédia grega atual é um clássico exemplo dos descaminhos que podem ser trilhados por uma ordem econômica injusta. Desatrelada dos valores essenciais que conferem dignidade a aventura humana. É amostra eloquente dos danos irreparáveis produzidos por uma economia desregulamentada, entendida por muitos, equivocadamente, como um fim em si mesma. E não como um instrumento, um meio para se atingir um objetivo maior, transcendente, representado pela construção humana. Ou seja, um fim social correspondente aos legítimos anseios e interesses da sociedade.
O que se anda querendo cobrar do chefe de família grego, da dona de casa grega, do empresário e do operário gregos é parte da conta dos desatinos econômicos e sociais cometidos, obviamente sem seu consentimento ou conhecimento, por instituições envolvidas em manobras especulativas por ganhos vorazes. Manobras essas que mergulharam boa parte do mundo numa crise recessiva com pesados ônus de natureza social.
O empenho dos dirigentes dos chamados paises superdesenvolvidos em proteger prioritariamente os haveres das organizações que provocaram a crise leva-os a promoverem aquilo que a Presidenta Dilma Rousseff definiu tão apropriadamente como a estratégia do “tsunami monetário”. Injetam, a fundo perdido, recursos fabulosos nessas organizações, para que não soçobrem, em detrimento de políticas de bem estar social, agredindo a economia de países vulneráveis, praticando uma política monetária inconsequente que gera condições desiguais de competição nos mercados internacionais. E, via de consequência, transferem o peso da dívida para outros ombros.
Resumo da história: a culpa pela dívida não é dos gregos. Falar verdade, nem dos troianos.
* Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)
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