quarta-feira, 22 de junho de 2011

AD MAJORA NATA


AD MAJORA NATA
Acadêmico Daniel Antunes Júnior


Aprendi alguma coisa de latim  quando, ainda muito jovem, ajudava o padre a celebrar missa. Uma vez, nos preparativos para a função religiosa, ainda  jejuno e sentindo o buquê agradável do vinho, tive a tentação de prová-lo, e vi que era bom. Experimentei também a hóstia, com idêntico resultado. A partir daí, todas as manhãs, religiosamente, eu quebrava o jejum  com o pão e o vinho ainda não consagrados. E desde então me familiarizei com o latim. Depois vim a estudar essa língua no ginásio,  com razoável aproveitamento. Mas não tenho a veleidade de me considerar  latinista, nem mesmo de meia-tigela.
 Ainda assim, tão logo vi o lema desta Academia, assaltou-me  a curiosidade sobre  o que realmente   significa a legenda  ad majora nata  e  pus-me a campo, na tentativa de  trocá-la em miúdos, como se diz na gíria.
O latim é uma língua sucinta e eloquente, que fala muito em poucos termos. Diz-se, por  exemplo, intelligenti, pauca, isto é, ao bom entendedor, meia palavra basta. E in vino veritas - no vinho está a verdade, significando que a bebida desinibe o sujeito, que assim não se cala nem se dissimula.
Conta-se a história do padre novo, que nos sermões, talvez por alguma inibição, não  empolgava os paroquianos, como conseguia fazer o padre velho, e que a este pediu uma dica, um conselho.
- Meu filho - disse o santo homem -  não fique com pieguices, a repetir coisas que todo mundo já sabe, isto é, falando do céu e do purgatório, do fogo do inferno, dos pecados e das relaxações morais. Fale de coisas amenas, alegres da vida. Conte algum caso edificante,  uma ação benfazeja e até mesmo uma anedota de fundo moral. Se preciso, para destravar a língua, tome antes uma pinguinha, que isso pode ajudá-lo....
Dito e feito. No domingo seguinte o jovem pároco, com surpreendente desembaraço, saudou os ouvintes, desejou-lhes felicidades, comentou um episódio de novela na televisão, falou dos sentimentos nobres dos jovens que se amam, das coisas boas e saudáveis da vida. Foi brilhante. E, para terminar:
- Quanto ao Diabo, que vá  a puta que o  pariu!..
Foi um sucesso, e os paroquianos, surpreendidos, bateram palmas.
Mas, vamos adiante. O idioma  latino não possui artigo e, de acordo com a parte final da palavra, conhecemos a função que ela exerce na frase.
Com efeito, estruturada com  o sistema de declinações, os nomes e  pronomes, na sua função específica, se identificam, em cada caso, conforme a sua flexão ou  desinência,  e onde quer que se encaixem na  frase.
Em cada declinação, os  casos  são seis: nominativo, genitivo, dativo, acusativo, vocativo e ablativo, nos gêneros masculino, feminino e neutro, no singular e  plural, cada um com sua função própria, isto é, a de sujeito, complementos, etc.
Os verbos, que exprimem a existência, condição ou ação  do sujeito, possuem, obviamente, voz, modo, tempo, número e pessoa.
Vamos a uma análise.
Sabemos que a partícula ad rege o acusativo em latim, e corresponde, em português, à preposição  a, para, junto de,  com   variações significativas como, por exemplo, na idéia  de aproximação, ou de em direção a alguma coisa.
No meu entendimento,  o  antepositivo major,  derivado do radical indo-europeu  mag, significa grande, às vezes melhorando o sentido. É o caso de magnus, magnificus, magnanimus e maiestas (de majestade).. Vê-se que  há uma equivalência das letras g,  i, j.
Note-se que maior - genitivo maius,- (que se confunde com major) é comparativo de Magnus, que por sua vez tem o superlativo  de maximus..
Em português, majorar é aumentar o  valor de algo. Ex., o BC majorou a taxa selic.
Pareceu-me que  majora  em latim  corresponde ao nosso  majoração, ato ou efeito de majorar, aumentar melhorando e  dando um sentido majestático à coisa, magnificente.  Nesse sentido compôs, como me parece, o lema desta Academia.
Verifiquei que natus,  em latim, com uma só forma, tem três  acepções.
 A primeira, natus,genitivo nascor significando  nascido, descendente de, feito para, ou destinado a,  com  três gêneros: masculino. feminino e neutro..
A segunda,  natus,genitivo  nati, tem apenas dois gêneros: masculino e feminino; significando filho ou filha. .
E a terceira, natus, genitivo natus significando nascimento, ou idade, (daí natal) obviamente só tem o gênero neutro.
Tanto no primeiro, como no segundo caso, o feminino de natus é nata, que vai para a primeira declinação -   nata, genitivo natae
Conclui-se que no lema da Amulmig o sujeito é nata  (caso nominativo) isto é, a instituição que nasceu  e ou foi destinada a ser a melhor.
Será mesmo esse o sentido de ad majora nata?.
Com a palavra os entendidos...

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