AD MAJORA NATA
Acadêmico Daniel Antunes Júnior
Aprendi alguma coisa de latim quando, ainda muito jovem, ajudava o padre a celebrar missa. Uma vez, nos preparativos para a função religiosa, ainda jejuno e sentindo o buquê agradável do vinho, tive a tentação de prová-lo, e vi que era bom. Experimentei também a hóstia, com idêntico resultado. A partir daí, todas as manhãs, religiosamente, eu quebrava o jejum com o pão e o vinho ainda não consagrados. E desde então me familiarizei com o latim. Depois vim a estudar essa língua no ginásio, com razoável aproveitamento. Mas não tenho a veleidade de me considerar latinista, nem mesmo de meia-tigela.
Ainda assim, tão logo vi o lema desta Academia, assaltou-me a curiosidade sobre o que realmente significa a legenda ad majora nata e pus-me a campo, na tentativa de trocá-la em miúdos, como se diz na gíria.
O latim é uma língua sucinta e eloquente, que fala muito em poucos termos. Diz-se, por exemplo, intelligenti, pauca, isto é, ao bom entendedor, meia palavra basta. E in vino veritas - no vinho está a verdade, significando que a bebida desinibe o sujeito, que assim não se cala nem se dissimula.
Conta-se a história do padre novo, que nos sermões, talvez por alguma inibição, não empolgava os paroquianos, como conseguia fazer o padre velho, e que a este pediu uma dica, um conselho.
- Meu filho - disse o santo homem - não fique com pieguices, a repetir coisas que todo mundo já sabe, isto é, falando do céu e do purgatório, do fogo do inferno, dos pecados e das relaxações morais. Fale de coisas amenas, alegres da vida. Conte algum caso edificante, uma ação benfazeja e até mesmo uma anedota de fundo moral. Se preciso, para destravar a língua, tome antes uma pinguinha, que isso pode ajudá-lo....
Dito e feito. No domingo seguinte o jovem pároco, com surpreendente desembaraço, saudou os ouvintes, desejou-lhes felicidades, comentou um episódio de novela na televisão, falou dos sentimentos nobres dos jovens que se amam, das coisas boas e saudáveis da vida. Foi brilhante. E, para terminar:
- Quanto ao Diabo, que vá a puta que o pariu!..
Foi um sucesso, e os paroquianos, surpreendidos, bateram palmas.
Mas, vamos adiante. O idioma latino não possui artigo e, de acordo com a parte final da palavra, conhecemos a função que ela exerce na frase.
Com efeito, estruturada com o sistema de declinações, os nomes e pronomes, na sua função específica, se identificam, em cada caso, conforme a sua flexão ou desinência, e onde quer que se encaixem na frase.
Em cada declinação, os casos são seis: nominativo, genitivo, dativo, acusativo, vocativo e ablativo, nos gêneros masculino, feminino e neutro, no singular e plural, cada um com sua função própria, isto é, a de sujeito, complementos, etc.
Os verbos, que exprimem a existência, condição ou ação do sujeito, possuem, obviamente, voz, modo, tempo, número e pessoa.
Vamos a uma análise.
Sabemos que a partícula ad rege o acusativo em latim, e corresponde, em português, à preposição a, para, junto de, com variações significativas como, por exemplo, na idéia de aproximação, ou de em direção a alguma coisa.
No meu entendimento, o antepositivo major, derivado do radical indo-europeu mag, significa grande, às vezes melhorando o sentido. É o caso de magnus, magnificus, magnanimus e maiestas (de majestade).. Vê-se que há uma equivalência das letras g, i, j.
Note-se que maior - genitivo maius,- (que se confunde com major) é comparativo de Magnus, que por sua vez tem o superlativo de maximus..
Em português, majorar é aumentar o valor de algo. Ex., o BC majorou a taxa selic.
Pareceu-me que majora em latim corresponde ao nosso majoração, ato ou efeito de majorar, aumentar melhorando e dando um sentido majestático à coisa, magnificente. Nesse sentido compôs, como me parece, o lema desta Academia.
Verifiquei que natus, em latim, com uma só forma, tem três acepções.
A primeira, natus,genitivo nascor significando nascido, descendente de, feito para, ou destinado a, com três gêneros: masculino. feminino e neutro..
A segunda, natus,genitivo nati, tem apenas dois gêneros: masculino e feminino; significando filho ou filha. .
E a terceira, natus, genitivo natus significando nascimento, ou idade, (daí natal) obviamente só tem o gênero neutro.
Tanto no primeiro, como no segundo caso, o feminino de natus é nata, que vai para a primeira declinação - nata, genitivo natae
Conclui-se que no lema da Amulmig o sujeito é nata (caso nominativo) isto é, a instituição que nasceu e ou foi destinada a ser a melhor.
Será mesmo esse o sentido de ad majora nata?.
Com a palavra os entendidos...