domingo, 8 de janeiro de 2012


Verso e reverso

Cesar Vanucci*

“As ideologias radicais, não importa sua coloração, nem suas supostas e inflamadas discordâncias, são verso e reverso de uma mesma moeda”
(Antônio Luiz da Costa, professor)

O fundamentalismo ultraconservador apavora tanto quanto o extremismo terrorista. Pode-se dizer mesmo que um e outro representam, na verdade, verso e reverso de uma mesma moeda. São expressões incendiárias de uma visão distorcida da realidade humana. Uma contrafação do sentido verdadeiro da vida. Agridem a consciência social. Alvejam os direitos elementares. Desprezam os sentimentos e emoções puros e espontâneos que regem a boa convivência comunitária. Geram deuses e ícones falsos. Abominam o diálogo entre contrários, instrumento de convergência que ajuda na construção de mundo melhor. Alimentam preconceitos aviltantes, racismo impiedoso, idiossincrasias incuráveis, ódios fratricidas, totalitarismos ferozes.

Espicham a tal ponto sua interpretação arcaica das coisas que passam a enxergar as conquistas do espírito, os avanços da ciência como blasfêmias heréticas. Chegam, não poucas vezes, a identificar riscos funestos à paz, à harmonia cotidiana, como agora acontece nos Estados Unidos, por obra e graça do chamado “Tea Party”, num simples anúncio de um atendimento de saúde universalizado; ou como ocorre, também neste justo instante, em certos países do mundo árabe intoxicados pelo radicalismo religioso, na mera aspiração das mulheres de desfrutarem do direito de acesso a uma carteira de habilitação de motorista.

Esse pessoal desvairado, pelos males que se revela capaz de aprontar, enche o mundo de medo. Ou seja, mesmo constituindo parcelas, embora aguerridas e atuantes, flagrantemente minoritárias no conjunto da sociedade, têm o “dom” de espalhar freneticamente por onde atuam o mais amaldiçoado dos instintos rasteiros, a nos valermos da definição do medo cunhada por Shakespeare.

Ÿ Martelo de novo, com carradas de razão, a tecla. Só no primeiro semestre deste ano, os quatro maiores bancos do País obtiveram, somados, lucros da ordem de R$ 22 bilhões e 900 milhões. Tais números, como de praxe, nessa espiral ascendente ininterrupta de resultados excepcionais que pontilha a trajetória do sistema bancário em nosso País, revelaram-se superiores aos do mesmo período do ano anterior, ficando assim distribuídos pelas organizações: Itaú, R$ 7.1 bi; Banco do Brasil, R$ 6.3 bi; Bradesco, R$ 5.4 bi; Santander, R$ 4.1 bi. A proverbial lucratividade do nosso operoso complexo bancário, incomparável com relação a qualquer outro país, traduzida nessa amostra de números correspondentes a apenas quatro instituições, suscita inapelavelmente uma indagação. À vista de toda essa dinheirama, não é o caso de se imaginar a instituição, por iniciativa do Governo, de um fundo para programas sociais relevantes com recursos derivados de tributação que incida sobre a lucratividade excessiva desse e de outros setores escandalosamente favorecidos pela política econômica vigente? Uma decisão dessas, corretíssima do ponto de vista político e social, não representaria uma forma de reforçar o caixa para a expansão de serviços essenciais nas áreas da saúde e educação?

* Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)

 

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