quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Atentado à dignidade humana

Atentado à dignidade humana

Cesar Vanucci *

“Um crime contra a humanidade!”
(Presidente Álvaro Colom, presidente da Guatemala)

Colho num canto de página de jornal, um desses espaços reservados para o despejo de calhaus, como se diz no jargão jornalístico, informação estarrecedora. Apoquenta-me bastante a forma indesculpavelmente “discreta” adotada pela mídia para divulgá-la. Os feitos narrados tiveram impactos extremamente perversos na vida de inocentes de comunidades comprovadamente desprotegidas. Gente arrolada, pela arrogância e prepotência dos “senhores do mundo”, como cidadãos de terceira classe. Alvejados impiedosamente em sua dignidade humana.

Mas de que notícia se está mesmo a falar? Desta aqui: Comissão especial constituída pelo Presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, chegou a chocante conclusão de que pelo menos 83 cidadãos foram mortos em experiências médicas secretas, promovidas por órgãos governamentais norte-americanos na Guatemala. Aconteceu na década de 40. O relatório a respeito explica que, aproximadamente, 5.500 guatemaltecos foram submetidos a exames e, desses, um total de 1.300 acabaram sendo infectados deliberadamente com doenças venéreas no curso de um programa de cunho alegadamente “cientifico”, elaborado e coordenado pelo “National Institute of Health”, agência vinculada ao Departamento de Saúde estadunidense.

O programa teve desdobramentos entre os anos 1946 e 1948. Os “pesquisadores” norte-americanos, chefiados por um “cientista” de nome John Cutler, usaram cobaias humanas, vários deles portadores de doenças mentais, para apurar se a penicilina, recém descoberta, poderia ser empregada na prevenção de doenças sexualmente transmissíveis. A ação “científica” consistia na inoculação de bactérias de blenorragia e sífilis nos elementos “selecionados”, na maioria, prostitutas. As “cobaias” foram estimuladas a manter relações sexuais com soldados, detentos, doentes mentais, por ai. Os “pesquisadores” acompanharam cuidadosamente a “evolução” dos experimentos, com vistas a compor um alentado acervo de “informações úteis” que pudessem vir a orientar ações terapêuticas futuras em ambientes sociais “mais refinados”, povoados obviamente por cidadãos de primeira classe.

O Presidente Obama, dias atrás, apresentou um pedido formal de desculpas ao Presidente da Guatemala, Álvaro Colom. Este, por sua vez, depois de classificar o apavorante incidente de “crime contra a humanidade”, ordenou fosse feita por cientistas guatemaltecos uma outra investigação.

Fica difícil, pacas, entender o comportamento indiferente, distante, da mídia com relação a assunto tão sério. A desnorteante história lança, também, no ar uma pergunta repleta de sombrios pressentimentos: a experiência levada a cabo pelos “cientistas malucos” teria ficado adstrita única e exclusivamente ao território da Guatemala, ou acabou se estendendo também a outras paragens, igualmente desguarnecidas na época (só naquela época?), do vasto “quintal” latino-americano?


* Jornalista (cantonius@click21.com.br)

sábado, 10 de setembro de 2011

Layon e a Expressão da Dor

Layon e a Expressão da Dor
Andreia Donadon Leal
Elias Layon, o pintor das brumas, das paisagens embranquecidas pela névoa que ofuscam sol, nuvens e casarios barrocos, na região dos Inconfidentes, na obra de traços nervosos e vigorosos, “A dor do mundo”, parte da coleção “As 2000 mil faces de Cristo”, vai além, muito além da opacidade brumosa em suas pinturas de traços leves, coloridos e sensíveis. Bruma layoniana toma lugar de brilho, apagando raios solares, para encobrir visão e instaurar contemplação. O efeito brumoso é o mesmo da opacidade, ocultar sem obscurecer, de forma sutil, transparente e leve.  A opacidade da bruma revela leveza e volatilidade. Dizem que poeta e artista têm espíritos iluminados por Deus, pois foram escolhidos para representarem o que os olhos não veem, mas a alma, o coração e o espírito sentem. Artistas foram escolhidos também, para ir até e além de paisagens exuberantes ou devastadas pelo ser humano. Vão além do óbvio ululante, para dar vazão às idiossincrasias da alma. O homem imita a natureza? Não, o homem a recria e a reinventa ultrapassando limites científicos.Layon, em “A Dor do Mundo” expõe, através de pinceladas vigorosas, precisas e nervosas, “O Grito” munchiano, reflexo diante da tragédia humana. Trata-se de dor em sua concepção irretratável, não dicionarizada, inimaginável, grotesca e grandiosa, que qualquer simbolização linguística, por mais verossímil que fosse, seria irrisória e insignificante.Layon não descreve, nem narra em pinceladas suaves, soltas e de cores claras, a dor do mundo. Ele ultrapassa a verossimilhança externa e atinge, com olhos voltados para o mundo, a verossimilhança interna, revelação das melancolias nas almas mutiladas em catástrofes, esses tantos apocalipses que devastam mundos construídos pelos sonhos humanos.Aqui a bruma não aparece, a dor não se esconde; ela se manifesta e requer visibilidade.  Nos momentos de dor, o homem apega-se à fé e encontra a face de Cristo, força que resiste toda dor do mundo. A dor do mundo aqui não é flexionada, nem pluralizada, pois o nome singular da obra dá a pincelada magistral e definitória da dor. Em “A Dor do Mundo” não há acaso, mas objetivo, fundamentação e proposta temática de um trabalho audacioso, de difícil representação.Layon se propõe a pintar, 2.000 faces de Cristo. Por que faces de Cristo? Talvez porque Cristo é imagem de todas as dores dos seres viventes, e é Ele, quem grita no grito de todos aqueles que se desesperam em momentos limiares de sofrimento. O mundo gira na face vermelha e preta de Cristo, ciclicamente, em traços fragmentados de construções em ruínas e de faces em dor. O questionamento na expressão boquiaberta, olhos esbugalhados e língua pra fora, extremo cansaço em uma face exausta, é o de que a metáfora da via crucisse materializa cada vez que seres humanos são sacudidos por catástrofes, seja uma catástrofe íntima, um problema pessoal, cuja solução se põe no reino do impossível, seja uma catástrofe coletiva (tsunamis, terremotos, acidentes), em que o impacto destruidor atinge até aqueles que nela não estão diretamente envolvidos.“A Dor do Mundo” não é só um rosto com expressão de dor, mas ao contrário disso, a expressão da dor no rosto da humanidade.
*Deia Leal - Pós-graduada em Artes Visuais – cultura e criação
Mestranda em Literatura – cultura e sociedade pela UFV
Presidente Fundadora da ALB-Mariana

Texto da acadêmica Wilma Cunha

A língua do Ceará

Acadêmica Wilma Cunha

 
 
 
Quem Disse?

Que o sonho acabou...
Se as horas tão pequenas
São como rimas  amenas
Do poema  de viver
O sol se levanta cedinho
Para reinar nesse mundo
Dourando o amor profundo
Ama, dá-te a conhecer.
 
Escuta com fé teu desejo
Ser feliz   na alegria
Nunca foi a utopia
O choro  é triste demais.
Abra teus olhos molhados
Como chuva nos telhados
Despejando   tantos ais.
Vê ao lado o semelhante
Que deixaste tão distante
Ensimesmado contigo.
Destranca as  tuas janelas
E deixa entrar por ela
O  Amor bom  e  amigo.
         
Lembro-me com saudade, quando peguei o trivial e me mandei pro Ceará, a bem dizer Fortaleza. Delícia de decisão. Com gosto de água de coco.
Em cada canto do paraíso, parece que a  inspiradora do escritor indianista, espreita e acolhe.
Iracema, a dona do rincão abençoado por direito. A linda musa, virgem dos lábios de mel, de cabelos longos como as folhas da palmeira e da cor das asas da graúna.
Martin Soares Moreno teve a graça de amar a deusa indígena e se perpetuar em Moacir, fruto daquele amor demais.
Com o pé fora de casa, quero saber o que posso sobre a terra e as gentes do lugar.
É a ânsia de quem escreve, historicamente insatisfeito, com o seu conhecimento.
Tempo ruim? No Ceará num tem disso não, tem disso não, tem não.
Eta povo danado de porreta.
Estado abençoado, berço de José de Alencar, Padre Cícero, Bezerra de Menezes, Dom Hélder Câmara, Rachel de Queiroz, Chico Anísio , Fagner, no meio de muitas estrelas das artes, renomados representantes do povo, cada um à sua moda somando valores à redenção do nordeste.
É bom passado ficar de flozô, juntar os bregueços, pegar um jeito abestado, abuletar-se no avião, leso e tá cum a mulesta  pro que der e vier.
Quem precisa ser avexado  na terra dos alencarinos, comandada pelo galeguim dozóiazul.
Que coisa boa fechar a fela da gaita da televisão, esquecer os cibazol da vida, os esparrentos, as cunhãs e ficar arriada pelo Ceará.
A brisa acariciante com cheiro de mar balançando as folhas da carnaúba, parece um Zé-tatá com ligação direta do céu.
Me solta que não sou rola, me deixa no leriado pra esquecer o lundu e me descobrir lustrosa de alegria.
Ninguém escapa de ser isgalamido  no Ceará.
Vixe! Estive em tempo de inguiar com tanta sustança no sarrabulho. Baião de dois, moqueca, cafofa, jirimum, mucunzá, lamdedor, capitãozinho, macaxeira, doce gelado, dindim, mariola e etc e tal.
Bagana, vi não sinhô. Povo porreta de vera.
Galalau, corró, batoré, balsero, baiacu, caritó, curisco, todos têm a graça da raça com mistura de holandês. Os bruguelo então..
Amei  Fortaleza de ruma e no divertimento sem hora, deu pena o entojo da companheira de viagem.
No grupo não embarcou: baba-ovo, barriga-branca, nem metido a miolo de pote.
Ainda bem. Ficamos livres da caruara.
Só um carne de tetéu.
Balançamos o esqueleto no xenhenhém  até ficar tronchos sem torando prego por causa de quem ficou.
Praquelas bandas,  é perder tempo procurar muié sem califon nas praias.
Nem catemba ou baitola gosta de se amostrá.
O Ceará é uma quintchura e por uma peinha de nada quase fico por lá.
Borimbora..
Avie ômi, vai tu também e reviverá.
Avie Maria, e tem xente que se acha sabedor de tudo. E pió,  cum tenência pra dominar.
Inclusive o português. Ou...... brasileiro. Quem sabe.... o cearês.
Eu, hein!
“Só deixo o meu Cariri, no último pau-de- arara”